MINHA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM DA LÍNGUA CHINESA. “Uma jornada de mil passos, começa com apenas um”

-Lao Tse_

Frequentemente sou questionado por amigos, colegas e familiares porquê decidi estudar chinês.  Actualmente, esta é uma pergunta difícil de ser respondida.  Primordialmente, foi pelo facto de Angola e China terem ótimas relações comerciais todavia, ao longo do processo de aprendizagem que irei contar nos parágrafos seguintes, elas mudaram, como também mudaram a minha forma de ver o mundo.

Inicio do desafio

 Comecei a estudar na Universidade Agostinho Neto, e estava no Campus do Camama. Além das aulas normais do curso de licenciatura, eu procurava coisas para fazer que me permitissem conhecer novas pessoas no meu tempo livre. Deparei-me com um cartaz que anunciava aulas de chinês, organizado pelo Instituto confúcio Na UAN, completamente gratuitas. Curioso Inscrevi-me naquele mesmo dia. No início, não havia grandes ambições, não tinha metas definidas ou planos para viajar para a China no futuro imediato, como a maioria das pessoas. Naquela altura não tinha grandes entusiasmo em aprender idioma, era algo que nunca tivera feito a não ser dentro do plano curricular da escola. Aprender uma língua do zero é difícil, ainda mais pelo facto de estudar uma língua completamente diferente da minha, usando uma outra que não entendia, como ponte. Fiquei intrigado em saber como me sairia.

Ordem depois do Caos

Tive a minha primeira aula no dia 26 de março de 2017. O meu primeiro Professor Guo Ping era muito enérgico e carismático. A cada aula, ele ensinava o que parecia ser milhares de frases e depois levava-nos a encenar simulando conversas básicas em chinês. Quase não entendia nada porque naquela altura conseguia comunicar-me apenas em português, o professor ensinava usando Inglês. Depois de cada aula, a minha cabeça doía por um longo período de tempo, era como se fosse estudar cálculo. Por conta disso, faltei muito as durante os primeiros dias. A maioria dos meus colegas desistiram em um curto espaço de tempo. Confesso que quase desistia do curso, porém Decidi dar a mim mesmo uma chance de aproveitar o processo de aprendizagem.

Apesar de muitas dúvidas iniciais, depois de um tempo comecei a perceber que quanto mais o meu cérebro doía imediatamente após a aula, mais informações recebia. Entre as aulas semanais, dediquei-me a aprendizagem fora da sala de aula e, lentamente a minha mente se reorganizava e dava sentido ao caos. Já não se tratava de algo desconhecido. Quanto mais progresso eu fazia, mais gostava de aprender chinês.

Factos inesperados

#1 Chinês é realmente dificíl?

Descobri que aprender chinês era, ao mesmo tempo, muito mais fácil e muito mais dificílimo do que seria. É muito fácil porque “não tem conjugação verbal”, “as palavras não variam em tempo,  género ou número”, “não tem artigos” e “tem a mesma ordem que as palavras em português”, em suma, a gramática é relativamente mais simples — pelo menos nos níveis iniciantes- ’do que o português, inglês, etc. É mais difícil porque ler e escrever caracteres envolve memorização de muitos hanzis, desafio que parece insuperável a primeira vista, mas que estou disposto a vencer um dia.

#2 Por dentro da cultura Chinesa

Mais de um ano depois de embarcar nesta jornada concluí o nível 2 e já conseguia manter conversas básicas em chinês sobre variados tópicos. Nessa altura viajei para a China. Participei no acampamento de verão, organizado pelo Instituo Confúcio. Esta foi uma excelente oportunidade de testar as minhas habilidades no idioma e expandir o meu conhecimento sobre a cultura chinesa. Nessa curta estadia, fascinei-me cada vez mais pela língua, pois ela é muito interessante e tudo a sua volta é interessante. Tudo se reflete no modo de vida da sua gente, desde a arquitetura à gastronomia, os mercados e os seus produtos únicos, o desenvolvimento moderno. Outras áreas importantes que ganhei interesse em aprender é a história,  economia e relações internacionais. Por conseguinte, a experiência que obtive com esta oportunidade permitiu-me não só uma imersão cultural, como também um melhor conhecimento e compreensão sobre diferentes áreas. Isto melhorou as minhas habilidades sócio-emocionias, autonomia e autoconfiança.

#3 Intercâmbio Online

Após a curta estadia na China, o meu interesse na língua e cultura chinesa aumentou consideravelmente. No final do ano de 2019, fiz o teste de proficiência em chinês do nível 3 denominado HSK3. Tive uma ótima classificação que me permitiu concorrer a uma bolsa internacional para prosseguir os estudos na língua. Escolhi a Universidade de Harbin e fui admitido. Porém, por conta das restrições impostas por causa da pandemia da Covid-19, o regresso a China ficou condicionado. Contudo, isto não me impediu de conhecer e os meus colegas e partilhar experiencias sobre o processo de aprendizagem, cultura, entre outros assuntos. Através das redes sociais tornei-me próximo e conheci culturas diferentes ao compartilhar com estudantes de várias partes do mundo que também estão a aprender a língua em perspectivas completamente diferentes da minha.

O que vem a seguir?

Com o objetivo de aprimorar as minhas qualificações, Recentemente fiz um curso de tradutor profissional no Centro Regional de Tradução, Interpretação e Localização (CRETIL) e fiz várias mentorias relacionadas a esta industria e tornei-me membro efetivo do Clube de Tradutores(CLUTRAD), uma organização que reúne tradutores de várias nacionalidades. Fiquei surpreso ao saber que em mais de 150 membros, era o único que tinha alguma referência neste idioma. Isto despertou o meu lado empreendedor e, desse modo, em colaboração com amigos, iniciamos um projeto denominado “Angola Chinese Tutor” com o objetivo de contribuir para a divulgação da língua e cultura Chinesa e promover o intercâmbio académico e cultural através de Cursos e Clube de Mandarim. É um projeto que está a ser bem recebido pela sociedade apesar de haver muitas pessoas que desconhecem a língua chinesa e que não acreditam ser possível aprende-la.

Conselhos para aprender a língua chinesa

Para quem pretende fazer isso eu ofereço o seguinte conselho:

  • Se você quer aprender chinês, precisa de um motivo. Seu motivo para aprender chinês pode mudar com o tempo, e isso é normal. O meu definitivamente mudou.
  • Não pense em longo prazo – Não desanime se você sentir que não está a absorver nada no início. Tenha perseverança, dê tempo ao tempo e permaneça fiel ao facto de que o seu cérebro está a processar algo novo e diferente.
  • Seja dedicado, estude pelo menos 15 minutos por dia. Existem muito aplicativos para telemóvel, canais de YouTube e, também pode encontrar vários parceiros nas redes sociais para intercâmbio online.
  • Participe do Clube de Mandarim — Recentemente, em parceria com a Mediateca de Luanda, criou-seum espaço que reúne falantes da língua chinesa para a partilha de experiências, debates e intercâmbio cultural e académico em torno da Língua. Está aberto a todos interessados.

Aprender Chinês é um desafio diário, académico, linguístico e artístico. É muito gratificante estudá-lo, pois a cada diálogo que estabeleço e que consigo safar-me usando o idioma, sinto-me como se estivesse a resolver um quebra-cabeças.

Por: Raul do sacramento Carvalho.

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