Oposição na RDCongo denunciam “caos” e “irregularidades” nas eleições
Os principais candidatos da oposição às eleições presidenciais na República Democrática do Congo (RDCongo) denunciaram hoje o “caos” e as “irregularidades” que, segundo eles, se verificaram no ato eleitoral que decorre no país.
“Éum caos total, não há organização”, declarou Martin Fayulu à comunicação social depois de ter votado numa assembleia de voto em La Gombe, um bairro de Kinshasa que acolhe várias instituições e embaixadas na capital da RDCongo.
“Estamos à espera que todos os eleitores votem, caso contrário não aceitaremos estas eleições”, acrescentou Fayulu, que afirma que a vitória lhe foi roubada nas eleições de 2018.
Mais uma vez, o opositor denunciou “o desejo” da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI) de “fazer passar Félix Tshisekedi”, o Presidente cessante e candidato incumbente, a um segundo mandato.
“A verdade das urnas deve prevalecer e eu sou o homem da verdade das urnas”, afirmou Martin Fayulu.
Pouco depois, no mesmo centro de votação, mas numa assembleia de voto diferente, Denis Mukwege, o médico vencedor do Prémio Nobel da Paz de 2018 pelo seu trabalho com mulheres vítimas de violação em tempo de guerra, disse que o processo eleitoral está “repleto de irregularidades”.
“Se constatarmos que essas irregularidades são enormes, não vamos aceitar que a população seja colocada na posição” de não poder eleger os seus líderes, acrescentou.
O empresário Moïse Katumbi votou no seu círculo eleitoral em Lubumbashi, uma grande cidade na região mineira do sudeste de Catanga, onde foi governador entre 2007 e 2015.
“Assistimos a muitas irregularidades esta manhã nas assembleias de voto”, declarou aos meios de comunicação social, apelando aos eleitores para que “acompanhem” os resultados “até ao fim”.
A votação para as eleições presidenciais, legislativas, provinciais e locais começou hoje às 06:00 horas locais (05:00 TMG), mas não em todos os locais e, de um modo geral, com diferentes graus de atrasos e disfunções, segundo as equipas da agência France Presse destacadas no país.
O desempenho da CENI estará sob apertada vigilância durante estes escrutínios, quer porque terá sido determinante no desfecho das eleições anteriores, que resultaram na vitória anunciada de Félix Tshisekedi – apesar de várias entidades, e em destaque os influentes bispos católicos congoleses reunidos na Conferência Episcopal Nacional da República Democrática do Congo (CENCO), cujas missões próprias de observação confirmaram a vitória de Fayulu — quer porque é liderada por Denis Kadima Kazadi, uma personalidade da confiança do Presidente, cuja posse é contestada pela oposição desde o primeiro dia em funções.
Na terça-feira, na véspera das eleições, o ministro congolês do Interior, Peter Kazadi, afirmou que as autoridades do país detiveram cinco cidadãos estrangeiros, cuja nacionalidade o governante não especificou, com máquinas que, alegadamente, podiam representar uma ameaça ao resultado das eleições.
“Estas pessoas admitiram que havia cinquenta observadores que têm o mesmo tipo de máquinas que negámos à União Europeia (UE), e que estas pessoas trabalham com uma estrutura” que quer “transformar-se em CENI”, explicou Kazadi.
O ministro afirmou que a RDCongo convidou a UE para observar as eleições, mas recusou a sua participação porque “eles vieram com tecnologia capaz de penetrar no sistema eletrónico da CENI e manipular os resultados eleitorais”.
“Não se pode vir observar com máquinas capazes de aceder aos dados da CENI”, disse ainda, garantindo que o objetivo dos detidos era preparar uma contestação dos resultados a publicar pela CENI, o único organismo autorizado a divulgar esses dados.
Kazadi sublinhou que estão a ser tomadas todas as medidas necessárias no país para enfrentar os desafios de segurança colocados pelos inimigos da democracia e do povo congolês.
Em 29 de novembro, a UE anunciou o cancelamento da missão que deveria enviar para observar as eleições na RDCongo, devido a “limitações técnicas”.