“Angola deve ter o seu próprio modelo económico. Importar ideias não é a solução”

0

O Portal “Factos Diários” manteve recentemente a grande entrevista com o tradutor, investigador da economia dos países CPLP em Centro Chinês de Estudo dos Países de Língua Portuguesa João Shang, onde abordou questões económicas ligadas entre os dois países Angola e China e, deu o seu parecer sobre a situação actual do país dando sugestões para que o Angola possa ter outro rumo no melhoramento de vida da população angolana. “Não estou fazendo críticas, apenas estou dar a minha opinião para despertar o Governo Central”, começa.

Por Isidro Kangandjo

FACTOS DIÁRIOS: Como a comunidade chinesa tem acompanhado os desafios económicos entre África e China?

João Shing: Para apresentar bem sobre o comércio China Angola e china África, temos primeiro que reconhecer a relação que existe entre a China e o continente africano. No universo de 55 países da África, a China tem uma relação fundamental com 53 país, neste universo, existe 26 países que tem uma relação estratégica com o nosso país, nestes países estratégico, inclui Angola.

Quando alguns países africanos encontraram algumas dificuldades, a China forneceu os apoios e tomou medidas para resolver os problemas e quando a China estiver a passar por dificuldade, também os países que temos uma estreita relação possam fazer essa reciprocidade.

Desde 2008 a 2017, a China lançou um programa “um cinturão e uma rota”, este programa, tem como objectivo “o desenvolvimento do comércio” onde faz a rota entre os continentes da Ásia África e Europa, por isso, com esse programa podemos lançar mais cooperação na ária de infra-estrutura, importação e exportação e outros sectores. Actualmente cerca de 14.1% de produtos produzidos na China mandamos para o mercado de África, mas a tendência é aumentar nos próximos anos.

FACTOS DIÁRIOS:  Existe muitas dificuldades e desafios no mercado. Como estás acompanhar a guerra comercial entre o seu país e os Estados Unidos da América?

João Shing: A China é a segunda maior economia do mundo, também possui maior fábrica do mundo. Quero com isso dizer que a China tem um mercado muito grande, não depende apenas do mercado norte-americano. Mas, nesta época, as economias não são isoladas, todos conhecemos um modelo da economia global, as ideias do isolacionismo, unilateralismo, hegemonia foram recusados pelos povos do mundo.

Desde que o Presidente Trump anunciou a ideia de que norte-americano está em primeiro lugar, iniciou logo uma guerra comercial no mundo. Não é só entre China e EUA, também combate com México, Europa (Itália, França­, Alemão etc.) neste momento a guerra comercial entre América, Japão e a Coreia do Sul é mais forte. Por isso, a ideia proteccionismo de comercial saiu dos EUA para outros países asiáticos e Europeus.

Desde o dia 01 de Setembro, o valor de 125 bilhões dólares aumentou em mais 15 % de imposto, ao mesmo tempo, há 160 empresas americanas que escreveram uma carta conjunta ao Presidente Trump, pedindo o cancelamento do aumento os impostos dos bens proveniente da China.

Dr. João Chang

FACTOS DIÁRIOS: Por que razão os empresários pediram o cancelamento dos impostos?

 João Shing: O motivo é desenvolvimento de longo prazo destas empresas que estão encontrando dificuldades numa altura em que o índice de consumo dos povos está aumentando. Por exemplo, os produtos de agrícolas, roupas, sapatos, utensílios de cozinha, computadores, televisores, produtos de Apple, etc. Estes produtos são maioritariamente comprados por americanos e as pessoas de média e baixa renda são maiores consumidores dos produtos da China.

Quando aumenta 15% de imposto, significa que o preço dos produtos está aumentando mais 15% ou 17%. Segundo dados da América, desde o aumento de imposto de importação, cada família americana precisa aumentar o seu orçamento em 600 dólares anuais, caso em Dezembro deste ano o governo de Trump aumenta 20% de imposto sobre as importações, as famílias americanas têm que pagar mais 1600 dólares. A sociedade está preocupada com o aumento dos preços e com a inflação monetária.

Por exemplo, todos sabemos que a China tem varias fabricas de Apple, o preço dos produtos electrónicos de Apple aumentaram mais 15% no continente americano, por isso, a empresa Apple está preocupada e triste porque após 01 de Setembro a Apple precisa de pagar mais 50 mil milhões dólares americanos sobre os custos.

Os EUA lançam a primeira guerra comercial aumentando 21% de impostos aos bens chineses, a China também aumenta 22% de impostos aos bens americanos, incluindo produtos agrícolas, veículos e petróleo. A China é um maior comprador de soja do mundo, mas neste momento, por causa de guerra comercial, não precisa de comprar mais soja e milhos norte-americanos, porque algumas empresas chinesas viraram-se para o Brasil e outros países.

FACTOS DIÁRIOS: A China não está interessada em dialogar mais uma vez com EUA?

João Shing: A China está interessada em procurar medidas para resolver os desacordos entre os dois países, mas, usa um provérbio que diz que “Quem procura a sabedoria, ama-se a si mesmo; quem mantém a sua razão esclarecida, prosperará”. A China quer procurar medidas para resolver os problemas, mas o governo de Trump está sem confiança. Em finais de Julho, ele disse que não aumentaria 15% de impostos sobre 500 Bilhões em Osaka de Japão mas quando um poucos dias voltou aos EUA, rompeu os acordos. Outro provérbio que diz que “gato escaldado de água fria tem medo”. Nós temos confiança, não poderíamos receber um resultado com desconfiança. Sobre a guerra comercial, a China e o povo chinês não tem medo, estamos preocupados sobre cooperação bilateral, mas não estamos triste porque agora o mercado da China é grande, os países asiáticos, europeus e africanos são os nossos principais mercados com os seguintes quadros de distribuição: Mercado de Asiático 51.5%, Mercado de Europeu 18.5%, Mercado de América 15.9% e Mercado de África14.1%.

O governo de Trump mandou as empresas americanas saírem da China e voltaram ao EUA, mas até agora o investimento estrangeiro direito à China cresce 7.8%, não há empresas estrangeiras a sair da China, eles têm confiança no desenvolvimento da China.

FACTOS DIÁRIOS: Essa guerra comercial entre os dois países acaba por afectar também os outros continentes?

João Shing: É impossível afectar porque a guerra comercial é muito diferente da guerra política, mas, precisa-se dizer que pode criar ciúme que é algo muito normal.

FACTOS DIÁRIOS: O que a China tem produzido com maior quantidade?

João Shing: Nós produzimos tudo um pouco… neste momento a China está apostar mais no milho, arroz e soja. Os economistas perguntam quem é o vencedor da guerra comercial entre “China e Estados Unidos da América”? Claro que cada um vai tirar as suas conclusões, mas, para mim, conforme os outros países de língua portuguesa têm analisado esse, fenómeno, o Brasil está acima no que concerne a produção da cesta básica, de recordar que dos 09 países de língua portuguesa, o Brasil está mais forte. Nos países de Língua Portuguesa não existe xenofobia, não existe nacionalismo e nem absolutismo.

São países que estão de mãos abertas para todas as pessoas, por isso, depois da guerra comercial entre a China e América, a China aumentou 128 produtos provenientes da América, por isso, existe vários empresários chineses a importar muitos produtos. De momento, o Brasil é o nosso parceiro mais forte na economia e, para África, Angola é o nosso parceiro estratégico.

FACTOS DIÁRIOS: É possível explicar porquê razão Angola é um parceiro estratégico com a China?

João Shing: Angola tem os seus recursos minerais, a madeira e petróleo, mas é muito pouco porque a exportação tem sido pouco, hoje tiramos mais de Angola o petróleo. Tenho que explicar também que a exportação de petróleo na China está dividido em quatro sectores, em 2017, Angola era o primeiro ou segundo exportador de petróleo. Este ano infelizmente Angola está em 6º lugar porque compramos mais o petróleo russo, Arábia Saudita, Venezuela e por último está Angola.

FACTOS DIÁRIOS: Angola tem enviado apenas o Petróleo?

João Shing: Não. Tem enviado também pedras, mármores, granitos e um pouco o café e, esperamos que enviem mais.

FACTOS DIÁRIOS: Não registam possível ameaça na cooperação entre Angola e China?

João Shing: Não. Angola é e sempre será um parceiro estratégico da China. Desde 2002, após a guerra civil, a China foi o primeiro país que se prontificou para apoiar Angola na reconstrução nacional. Em 2002, o Presidente cessante foi para o FMI e no Banco Mundial, mas foi recusado. Embora que falam pouco sobre esse assunto, mas a verdade deve ser dita de que a China foi e continua solidário com Angola.

FACTOS DIÁRIOS: A dívida que o nosso país tem com a China, não cria desconfiança ou não contunde a relação entre os dois Estados?

João Shing: Não posso dizer que é um problema muito grave. Existe alguns jornalistas ocidentais e economistas angolanos a dizer que a dívida que Angola tem com a China é muito alta, mas quero aqui utilizar o discurso do presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta que dizia “ nós temos que analisar a distribuição de dívida”, não basta dizer que Angola deve 60 mil milhões de dólares, é preciso saber o objectivo principal dessa dívida. O Presidente do Quénia disse mais ainda que não se pode emprestar o dinheiro para pagar dívidas dos funcionários, não se pode emprestar o dinheiro para comprar carros para servidores públicos. Deve se emprestar o dinheiro para melhorar o nível de vida dos povos.

Deveria se apostar mais nas infra-estruturas. Antes de chegar em Angola em 2009, existia poucas vias de acesso, não existia infra-estruturas de grande escala, as estradas estavam esburacadas, quer dizer que era um mundo triste. Para quê buscar a dívida da China piorando a vida do povo? A gestão racional dos governadores, é muito importante. Emprestar muito dinheiro não é um problema. É preciso que se use políticas para combater a corrupção durante a implementação do projecto.

FACTOS DIÁRIOS: A aplicação tardou mas o actual Presidente tem como prioridade o combate a este fenómeno. Valeu apenas?

João Shing: É uma ideia brilhante do Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço. Desse jeito, haverá mais acções e responsabilidade na distribuição e aplicação da coisa pública.

FACTOS DIÁRIOS: Está quer dizer que os valores que Angola emprestou à China foi mal gerido?

João Shing: Não quero aqui dizer que os valores foram mal geridos, mas era necessário o Governo Central dirigir esses projectos. Não quero aqui criticar antigos governantes porque é um caso que os próprios angolanos devem tirar as suas conclusões. Se a dívida teve como a missão de melhorar a vida do povo, implica dizer que velou-se pela justiça.

Cidade de Luanda

Nas eleições de 2012, o Presidente José Eduardo dos Santos Ganhou as eleições gerais com 62.77% com o lema, “produzir mais e distribuir melhor”, neste caso, ele mereceu a confiança do povo mas a corrupção matou todo o seu trabalho. A sua recandidatura significa que ganhou confiança ao povo e, como resposta, José Eduardo dos Santos deveria investir o dinheiro melhorando as condições de vida da população, mas repito, a corrupção matou todo o seu trabalho. Combater a corrupção é um plano muito fundamental para um país que pensa evoluir.

FACTOS DIÁRIOS: Antes de dar a dívida para Angola, analisaram os projectos?

João Shing: Qualquer país faz isso antes de dar o empréstimo. Nós analisamos se vale apenas dar ou não, mas, apesar dos valores emprestado, nunca lançamos um pedido ao governo angolano conforme acontece com o Banco Mundial e FMI que exigem que deve se cancelar os subsídios e aumentar outras tarifas para diminuir a quantidade de dívidas.

Eles esqueceram que Angola não é um país desenvolvido e o pedido desses bancos não se enquadram na realidade angolana. Cada país tem a sua própria característica, Angola deve procurar o seu modelo ou característica de governação porque imitando não é a solução. Deve haver uma característica angolana, por exemplo, a China é uma sociedade Socialista mas o Socialismo que adoptamos tem uma característica chinesa. Angola deve ter o seu próprio modelo económico, não deve buscar bastantes experiências Europeu, Americana ou Asiática porque importando ideias não é a solução para o país.

FACTOS DIÁRIOS: A experiência ocidental não se enquadra bem na realidade africana particularmente em Angola?

João Shing: Pode se enquadrar, mas copiar não é a solução para um país que quer desenvolver. A maioria dos consultores económicos que ficam ao lado dos governantes são ocidentais e tudo que vão falar terá como experiência do ocidente. Vamos aqui falar de cancelamento de subsídio, qual é o tipo de subsídio que deve ser cancelado? Luz, Água e combustível. Cancelar o subsídio de combustível seria um erro muito grave. O Fundo Mundial Internacional não sabe o número do povo angolano que vive na baixa renda, de acordo com as pesquisas feitas, 51.8 da população vive na linha da pobreza como pode ser mais.

Angola tem aproximadamente 30 milhões de habitantes e no universo dessa população, Luanda tem cerca de 8 milhões de habitantes e o resto fica nas 17 províncias. Se em Luanda há pessoas a passarem mal, imagina nas outras províncias? Daí, há necessidade dos jornalistas trabalharem nesse sentido para ajudar o governo.

FACTOS DIÁRIOS: Muitos jornalistas já têm feito esse trabalho…

João Shing: Pouco e fico triste com muitos jornalistas angolanos porque ficam limitados apenas nos problemas de corrupção, poucos vão buscando opiniões para solucionar o problema do povo que vive em baixa renda. Fecham-se em Luanda procurando quem roubou e quem está ser julgado.

As pessoas de camada baixa, não estão preocupadas com a pessoa que desviou o dinheiro, não estão interessado na perseguição da pessoa que roubou o dinheiro. O governo precisa ouvir e saber os verdadeiros problemas da vida do povo através do trabalho dos jornalistas.

FACTOS DIÁRIOS: Como os empresários da comunidade chinesa estão acompanhar aplicação do IVA?

João Shing: Me parece que o IVA é um pedido do Fundo Monetário Internacional para ver se se resolve alguns problemas. A comunidade Chinesa particularmente os empresários, estão preparados para pagar. As empresas e câmaras de comércio, já fizeram a formação de como pagar o Imposto sobre o Valor Acrescentado, aliás, os empresários angolanos não têm como recusar o IVA porque esse foi uma obrigação que o Governo Central recebeu a partir do FMI e o Governo é obrigado a cumprir com as suas obrigações.

FACTOS DIÁRIOS: O IVA é oportuno para Angola tendo em conta a realidade financeira?

João Shing: Não posso dizer se é oportuno ou não, mas Angola é o único país da África Austral que não implementou o IVA. O maior problema é que a organização que obrigou, não conhece a realidade angolana… o preço de consumo em Angola é mais alto comparando com os outros países do Mundo e com a implementação do mesmo, não sei como será o País.

FACTOS DIÁRIOS: Essa relação que Angola acaba de ter com o FMI e BM não cria ciúme ao Governo da China?

João Shing: Não cria ciúme nenhum. Angola e China são parceiros estratégicos. O Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço tem que reconhecer que a China é um sector mais forte para resolver os problemas do povo de baixa e média renda. Gostaria de aconselhar Angola para evitar a exportação de pensamento porque não será bom para alavancar a economia nacional. As exigências do ocidente pode prejudicar muito Angola, a China, nunca aconselha um país a ter o mesmo modelo porque pode falhar. A Grécia Pediu empréstimo, Argentina também pediu empréstimo ao FMI e todos tiveram a mesma receita, cancelar os subsídios para reduzir custo do Estado.

É preciso saber que a taxa de desemprego é muito elevada, Angola não tem indústrias de grande porte, agricultura não é das melhores e a diversificação de economia também não está melhorando embora que tem dados alguns passos, mas não é das melhores. “Não estou fazendo críticas, apenas estou dar a minha opinião para despertar o Governo Central”

FACTOS DIÁRIOS: Dr. não é necessário reduzir os custos do Estado para estabilizar o cofre?

João Shing: Reduzindo o custo do Estado é bom, mas não deve ser100% cortado, porque, fazendo isso, o governo estará a fechar as portas para os jovens se alimentarem e como resultado haverá mais jovens procurando emprego, haverá mais jovens a mendigar nas ruas de Luanda.    

FACTOS DIÁRIOS: Tem a mínima ideia de angolanos que foram empregados pelas empresas chinesas?

João Shing: Para falar de quantos angolanos são empregados através das empresas ligadas a comunidade Chinesa, fica um pouco difícil. Temos 10 câmaras comerciais e está incluído 1358 empresários de grande e médias empresas excluindo as pequenas que não participaram e todas essas empresas têm trabalhadores.

FACTOS DIÁRIOS: Enquanto consultor económico, achas que a China pode resolver o problema de desemprego em Angola?

João Shing: Claro que sim. Actualmente os chineses estão quase em todos os municípios que constitui o país vendendo qualquer coisa e empregando cidadãos angolanos.

FACTOS DIÁRIOS: Em que ponto está a saúde empresarial da comunidade chinesa depois da crise?

João Shing: A quantidade de investidores Chineses está baixando por razões económicas. O que se passa é que investem aqui mas não têm a capacidade de exportar o dinheiro para comprar outras mercadorias. O negócio é como uma roda de veículo em movimento e quando encontra um impasse, acaba por ficar parado. Os investidores Chineses não têm a capital de reserva por isso os produtos a grossos estão baixando.

Antes de 2012, os Chineses estavam em todos os lugares inclusive nos mercados e bairros. Em 2012, havia mais 300 mil chineses. Já em 2014, ficou 60 mil e este ano controlamos apenas 40 mil Chineses e esses eram na sua maioria investidores privados. As empresas privadas chinesas ligadas na ária de construção civil, estão resistindo e o governo deve cuida-las bem porque eles investem tudo aqui contribuindo na construção do país.

CR 20 é uma empresa chinesa apta para a construção de estradas e caminho-de-ferro em 1973, a china através da empresa CR 20, começou a construir o caminho-de-ferro que saiu da Tazania à Zambia e a construção teve a duração de apenas seis anos. O nosso Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, depois de tomar posse, a sua primeira vista foi em África. Aqui também está a nossa história e nos tornamos uma família.

FACTOS DIÁRIOS: A “cidade da China” se tornou hoje um mercado estratégico para os chineses e angolanos. Quanto se investiu?

João Shing: O director da cidade da China, disse que se investiu quase 200 milhões de dólares e os investidores Chineses têm do local como um mercado estratégico e, também, se tornou uma plataforma de emprego para muitos angolanos. Diariamente recebemos quase sete mil de veículos para fazerem compras.

A Cidade da China, enquanto empresa imobiliária, tem 200 trabalhadores e dentro da cidade da China tem 168 lojas e emprega mais de 1680 trabalhadores, quer dizer que só a Cidade da China pode empregar mais de dois mil trabalhadores. Chinês tem um costume, só faz e nunca fala por isso que poucos angolanos conhecem o nosso esforço.

FACTOS DIÁRIOS: Andaram muito tempo no silêncio para falar das vossas acções no nosso país, o que se passou?

   João Shing: O maior problema é que quando nós falamos as outras pessoas pensam mal. Esse ano temos um objectivo, nós temos que trabalhar, fazer, mas também temos que falar porque muitos familiares angolanos pensam que nunca fizemos nada para o desenvolvimento do país. Qualquer acção merecerá um esclarecimento e vamos trabalhar mais para darmos emprego aos jovens.

FACTOS DIÁRIOS: Têm escolhido os níveis de pessoas para serem empregadas?

João Shing: Nós empregamos pessoas de todos os níveis. Empregamos pessoas de baixa e média renda. Mas, para ser sincero, nós achamos melhor priorizar pessoas de baixa renda porque, fazendo isso, estaríamos a contribuir na segurança da sociedade.  Gostaria de aproveitar também essa oportunidade para dizer que em todas as empresas chinesas ligadas a construção civil, 95% de trabalhadores são angolanos, isso tem facilitado pagar salário em moeda nacional e os outros porcentos são ligados aos técnicos que dirigem o trabalho. Nas lojas, apenas o patrão é chinês e todos são angolanos.           

FACTOS DIÁRIOS: Sabe-se que as empresas ligadas aos empresários chineses pagam supostamente mal. Quais são as razões?

João Shing: Não é a nossa vontade. Sabemos que os valores que pagamos não servem para suprir as necessidades de casa e ao mesmo tempo pagar a faculdade porque os lucros dos chineses também são muito baixos. Nós pedimos um valor muito baixo mesmo na empresa de construção, se comparar os orçamentos das empresas portuguesas, brasileiros e da China, notarás uma diferença enorme porque para nós o mais importante não são os lucros mas sim a nossa contribuição na construção do país. Quando os lucros são baixos, os salários dos funcionários também são baixos. Mesmo nas mercadorias acabamos por ter lucros muito baixo.

Dr. joão Shang

Quando nós empregamos pessoas de baixa renda, acabamos por contribuir na segurança do país. Ouvimos muitos assaltos em Luanda principalmente na “operação 17 de Setembro” onde apanharam muitos jovens em flagrante delito com as armas na mão. Muito desses jovens fazem isso porque encontram-se desempregados e não têm outra via se não roubar para resolverem os seus problemas.

FACTOS DIÁRIOS: A comunidade chinesa continua a sofrer assaltos e raptos?

João Shing: Os casos de crime contra os chineses estão baixando e alguns casos de sequestros tende tido a mão invisível de próprios chineses. Antigamente os sequestradores pediam 20 a 10 milhões de kwanzas, agora sabe quanto pedem? 500 mil kwanzas. Porque muitos desses que se encarregavam a prejudicar a comunidade chinesa, descobriram que os chineses já não têm dinheiro.

Estamos a cooperar com o ministério do Interior para o combate de crimes no seio da comunidade Chinesa porque nos últimos anos, a maioria dos assaltos e homicídios no nosso seio, era cometido pelos membros da comunidade chinesa    

 FACTOS DIÁRIOS: O ministério do Interior está fornecer uma boa segurança para a comunidade Chinesa?

João Shing: Conhecemos o esforço do ministério do Interior, mas devo aqui dizer que os bandidos quando realizam o caso de crimes, dificilmente vão atacar alguém de baixa renda, eles sequestram ou fazem assaltos na casa de alguém que sabem quem ele é e onde trabalha. Sensibilizamos toda comunidade chinesa para evitarem carregar o dinheiro na pasta ou na viatura para fazerem compras. Todos foram aconselhados para utilizarem Multicaixa para a sua maior segurança e hoje os assaltos reduziram.

FACTOS DIÁRIOS: O senhor, enquanto tradutor de Mandarim para Português, será que já recebeste uma denúncia de um chinês que foi burlado por um Governante angolano?

João Shing: Os casos de burlas que a comunidade chinesa sofre, os autores não têm sido angolanos, no mês de Julho, um dos agentes da polícia chinês que cooperava com o Ministério do Interior, pelos seus comportamentos indecorosas, regressou para a China e hoje a nossa comunidade está mais tranquila porque há uma boa cooperação entre o Ministério do Interior de Angola e da China, neste momento muitos agentes da Polícia Nacional Angolana se encontram na formação lá na China e, para nós, é muito importante esta estreita relação entre os dois países.    

FACTOS DIÁRIOS: O que o governo angolano deve fazer para atrair investidores no tempo da crise financeira e da pandemia mundial?

 João Shing: O que o Governo Central deve fazer para atrair investidores, é melhorando a gestão do país e melhorando as medidas de políticas de investimentos. Esses pontos são muito importantes para atrair investidores. Vamos falar sobre os recursos naturais que Angola tem, nos anos 60 e 70, as portas da China estavam abertas para os estrangeiros explorarem os nossos recursos tais como o carvão, cobre pratas e outros metais. Fizemos isso porque a China não tinha dinheiro, foi nesses anos onde mais 45 milhões morreram de fome. Quando os investidores mineiros vêm em Angola, não significa que apenas eles que saiam a ganhar, o Governo angolano e os parceiros angolanos também ganham.

Há muitas montanhas cheias de cobres mas os angolanos não têm como explorar por falta de tecnologia e de apoio financeiro. Por outro lado, não basta contratar investidores estrangeiros durante 20 anos para explorar riquezas sem ajudar o país no desenvolvimento. Eles devem empregar mais angolanos principalmente os jovens, devem pagar impostos, devem respeitar a lei de exploração mineiras, deve melhorar as condições de vida da comunidade que fica próximo do campo de exploração dando água, saúde e educação se for necessário. Com os impostos arrecadados, o Governo terá dinheiro para melhorar a vida do povo.

Os recursos naturais quando não são explorados e logo serem transformados, não valem para nada. É uma simples pedra de diamante, é um simples cobre escondido no solo. Angola é rica e tem tudo para trilhar, o que deve se fazer é Governo Central criar políticas para atrair investidores para apostarem no sector.

FACTOS DIÁRIOS: Apostando nesse sector o país poderá arrecadar mais divisas?

João Shing: Absolutamente porque esses produtos não são vendidos aqui no país e ao vender, Angola terá mais dólares e mais Euro através da exportação. É preciso que o Governo Central faça mais e fale menos porque a prática é o que todos precisam.

Eu trouxe ainda esse ano três empresários Chineses que pretendiam investir nesse sector, fizeram análise da consultoria, mas encontraram um impasse ao adquirir licença de exploração. Nesta altura foram para a República Democrática do Congo e, segundo eles, já começaram com o trabalho. Não é fácil conseguir esse documento em Angola, mas me parece que o ano que vem as coisas vão melhorando porque notamos essa vontade no governo de João Lourenço.

Dai, dou mais um puxão de orelha aos jornalistas angolanos no sentido de despertar o Estado. Os jornalistas ocidentais em várias vezes difundem as notícias negativas, pouco fazem para despertar o Governo. A China tem um adágio, “esse calçado é bom, só nós próprios é que conhecemos” uns dizem que o calçado é bonito e outros dizem que é feio, mas a pessoa que usa sente-se confortável.

São poucos jornalistas como o senhor que vem ao encontro de um entrevistado para saber a visão da comunidade chinesa face a situação actual de Angola e África . Muitos jornalistas copiam notícias divulgadas pelos outros órgãos estrangeiros que pouco contribui para o bem-estar.

FACTOS DIÁRIOS: O senhor está quer dizer que os Jornalistas jogam um papel fundamental na busca de soluções para acabar com a crise financeira em Angola?

João Shing: O trabalho de um jornalista é muito importante para um país, são porta-vozes daqueles que não têm voz, mostram o problema do país e falam também das soluções através de mosaicos de entrevistados que cada um vai dar a seu parecer. Para atrair investidores apresento aqui três factores: os Jornalistas que trabalham na divulgação das dificuldades, as acções e oportunidades que o país oferece depois o Turismo e Agricultura.

No sector do turismo, Angola tem ainda muito trabalho para fazer porque há locais turísticos onde os autocarros não entram e as vias todas esburacadas. Para ir nesses locais tem que andar com carro de marca Land Cruiser vulgo (4ˣ4), mas nesses carros chegam apenas 6 pessoas e às vezes há grupo de pessoas interessadas para irem fazer o turismo. Os hotéis pedem preços que não incentivam os turistas, entretanto, Angola deve ter a experiência da Tailândia.

Antes de 2002, a China não conhecia a Tailândia, depois de 2003, o Governo da Tailândia fez uma promoção ao turismo e atraiu mais investidores. Angola deve apostar no turismo para atrair mais investidores. O investidor precisa de conhecer primeiro o país e isso acontece através do turismo. Eles vão pesquisando as zonas, saberão a realidade do país para depois investirem.   

FACTOS DIÁRIOS: Falando da agricultura, no nosso país a China está bem representado nesse sector?

João Shing: Felizmente estamos num bom caminho, embora que não é das melhores, mas já estamos no Huambo, Malanje, Huila, Uíge e outras províncias. A cooperação nessa ária é mais fácil porque Angola tem muitas terras aráveis e nós compramos apenas máquinas e outros equipamentos e, nesta altura há muitos jovens que estão a conseguir o seu primeiro emprego no interior do país.

FACTOS DIÁRIOS: Têm feito algumas acções sociais?

João Shing: Temos feito várias intervenções em alguns problemas que aflige o povo angolano, nos sentimos parte do problema de Angola e a solução deve partir para todos. Fomos nos centros de acolhimentos e centro dos idosos e, temos trabalhado doando bens não perecíveis aos irmãos do sul onde demos mais de 500 sacos de fuba de milho e soja, demos cobertores, sapatos, sabão, água entre outro. 

Dr. João Shang

A seca preocupa a comunidade chinesa e dentro das nossas possibilidades vamos contribuindo para reduzir esse problema. A população do Cunene está sem riqueza porque os Gados acabaram de morrer e as terras ficaram totalmente secas. Existe Associação dos Chineses Voluntários composto por 1500 pessoas onde eu sou Presidente, nessa associação temos contado com vários angolanos para contribuirmos com alguma coisa para melhorar a vida da população afectada com a seca.

A comunidade chinesa está igualmente a realizar doações da cesta básica e outros materiais gastáveis no combate a fome e riscos da Covid-19. Não podemos nos cansar de fazer o bem porque Angola é a nossa segunda casa, o nosso lar.

FACTOS DIÁRIOS: Para terminar, o que gostaria de deixar?

João Shang: Na minha opinião, o Governo deve melhorar a imagem da comunidade chinesa em Angola. Nós somos amigos há muitos anos, a nossa amizade não é da rua, amigo ou amizade são palavras muito fortes, aliás, quando não conhecemos alguém ao chama-lo devemos trata-lo de senhor mas quando nos conhecemos o tratamento é outro.

As crises vêm dando lições de cada país para despertar aquilo que foi mal trabalhado e dá a ideia de como ultrapassar esse problema. A crise não é um problema quando os actores do poder executivo têm essa vontade de reverter o quadro.

PERFIL DO ENTREVISTADO

João Shang, nasceu em Setembro de 1984 na Província Henan da China.
João, é jornalista e Investigador da Economia, mentor da literatura africana, Membro de Associação dos Escritores Chineses (AECH).

O entrevistado é investigador da economia dos países CPLP em Centro Chinês de Estudo dos Países de Língua Portuguesa (CCEPLP) e Universidade da Economia e Negócios Internacionais (UIBE)­.

João Shang vive em Angola a dez anos e pelo amor a língua portuguesa e à literatura, já traduziu em 11 livros de romances e contos africanos, João, trabalha como Investigador da economia dos países PLOPS, e mentor de literatura africana. Publicou já vários romances e contos angolanos e moçambicanos em mandarim em continental da China.

O portal “Factos Diários” poderá em breve retomar a entrevista com Dr. João Shang para falar exclusivamente sobre a Covid-19 e os cuidados que os países africanos devem de terem em conta.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Translate »