Revelações bombásticas com Director Geral do Hospital Maria Pia

Dr. Azevedo Ekumba, Director Geral do Hospital Josina Machel ou, ainda, “Maria Pia”, especialista em Cirurgia Cardiotorácica, foi o convidado especial da grande entrevista ao Portal Factos Diários. Durante a sua locução, o gestor reconheceu os avanços e sublinhou que o maior milagre foi o de reduzir 131 para menos de 20 empresas prestadoras de serviços. Para o Director, nos dias actuais, a meta é atingir um atendimento de excelência e um combate desmedido à corrupção na sua instituição.


Por Isidro Kangandjo

FACTOS DIÁRIOS: A instituição Josina Machel tem realizado concursos públicos para colocação dessas empresas prestadoras de serviços?

Dr. AZEVEDO EKUMBA: A condição é sine quan non respeitando as normas de contratação pública. A empresa chega aqui, apresenta a sua carta, verificamos os serviços que presta e, se o hospital estiver interessado, negociamos e formulamos uma carta-convite para a celebração do contrato. Ora, se houver uma situação que deva ser resolvida imediatamente em benefício dos doentes, passa-se por contratação simplificada. Mas, se for aquilo que se pode esperar, pode-se fazer uma modalidade mais alargada em que se requer mais contributo e apreciação de mais empresas que queiram se candidatar e todos concorrerem ao mesmo pé de igualdade.

FACTOS DIÁRIOS: Nestes concursos que o hospital vem realizando, o senhor ou os seus colaboradores directos são donos de algumas dessas empresas envolvidas?

Dr. AE: Não! Isso afasta qualquer membro da direção do hospital para concorrer. Está terminantemente proibido. Eu não posso, nem quero e nem devo ter uma empresa aqui. Todo o pessoal da direcção do Hospital não deve ter sua empresa que preste serviço aqui e, quem tiver, fê-lo à margem da lei, e se eu tivesse conhecimento dessa irregularidade, eu seria a primeira pessoa a proibir, simplesmente por obediência à lei.

FACTOS DIÁRIOS: Temos informações de a empresa responsável pela manutenção das ambulâncias é do seu assessor e que, se por mal manutenção por falta dela, terá resultado no acidente que ocorreu recentemente no viaduto do Prenda. O que tem a dizer sobre o assunto?

Dr. AE: Aqui há dois assuntos. Um que diz que a EUMOTO é do Eurico, o meu assessor, e outro que o acidente terá ocorrido por falta de manutenção das ambulâncias. Há aqui duas mentiras. Primeiro é que todas as ambulâncias ou outras viaturas ao serviço do hospital Josina Machel são minuciosamente averiguadas antes de estarem na estrada e temos maior cuidado com as ambulâncias porque elas carregam doentes ou feridos e não podemos negligenciar, colocando em perigo a vida do condutor, dos técnicos de saúde e até dos próprios doentes.

Porém, se terá causado o acidente, até aqui ninguém sabe. Aquela ambulância tem estado a trabalhar perfeitamente, por isso, não tem sentido justificar a falta de manutenção. Aliás, as ambulâncias nunca estiveram tão bem em termo de manutenção como agora. Há rigor, responsabilidade e profissionalismo por aqueles que fazem manutenção das viaturas do hospital.

FACTOS DIÁRIOS: Essa empresa pertence ou não ao seu assessor?

Dr. AE: Tem contrato realizado com a empresa e os proprietários estão identificados. Não há registo do nome nem de familiares do meu assessor. Se assim fosse, seria eu mesmo a impedir pela observação e obediência à lei de contratação pública.

FACTOS DIÁRIOS: A sua gestão conta com o apoio da maioria?

Dr. AE: Disso não sei. O certo é que essa direcção não goza de simpatia de todos e eu entendo. Nós estamos aqui com intuito de organizar, de resgatar o verdadeiro nome do Hospital Josina Machel “Maria Pia”, tira-lo da letargia de que sofre por parte do público, julgando-o ser sinónimo de morte e quem cá vem, vem directamente para morrer. Nós queremos acabar com essa ideia. Por isso é que nós temos que ser rigorosos e chamar as pessoas à razão e, quando isso acontece, nem todos gostam porque a maioria está habituada a fazer disso o que lhe apetece por falta de comprometimento total com a causa.

Ninguém fica satisfeito sabendo que antes entrava às 10 horas e saía às 12 horas, agora é obrigado a entrar às 08 e sair 15:30, sob risco de levar falta, caso não cumpra com o horário. Essa pessoa vai ter simpatia com essa direção? Claro que não! Pelo contrário, vai fazer de tudo para denigrir a direcção com calúnias e difamações.

FACTOS DIÁRIOS: Não se sentem intimidados com essas mudanças?

Dr. AE: Claro que não. Nós estamos a trabalhar com toda a dedicação e responsabilidade, e queremos que o nosso utente amanhã reconheça que o Hospital Josina Machel mudou para o bem. Não podemos nos sentir ameaçados, pois estamos a fazer um trabalho justo para nos tornarmos numa referência no país, uma vez que este é um dos maiores hospitais, da Nação angolana.

 FACTOS DIÁRIOS: O Factos Diários sabe de fonte seguras que a nova direcção do Hospital liderada pelo Senhor terá rescindido contracto com maior parte das empresas que aqui prestavam serviços. Porque isso aconteceu?

Dr. AE: Nós não rescindimos contracto com maior parte das empresas. Nós rescindimos contracto com todas as empresas. São no total 131 empresas.

FACTOS DIÁRIOS: Porque a rescisão de contractos com todas as empresas, senhor Director Geral?

Dr. AE: Nós passamos por essas empresas toda, porque algumas delas nunca tiveram contractos. Algumas eram apenas prestadoras de serviços. Apenas cerca de 50 tinha contracto. Cortamos tudo porque algumas empresas tinham contractos mal feitos, sem as normas conforme manda a lei de contratação pública, com um orçamento milionário que nem suportavam com as condições financeiras do hospital. A única alternativa era cortar os contratos e, infelizmente, isso frustrou muita gente por causa dos seus interesses.

FACTOS DIÁRIOS:  Actualmente o Hospital Maria Pia controla quantas empresas?

Dr. AE: Neste momento contamos com menos de 20 empresas, ou seja, das 131 empresas que existiam no Hospital, resumimo-las em menos de 20. De acordo com a contratação pública, as empresas prestadoras de serviço têm uma duração de 48 meses, mas aqui encontramos empresas que ficaram 17 anos. Será que só elas que sabem e devem trabalhar? É preciso dar oportunidades aos outros.

Ora, é preciso que fique aqui um recado: as empresas que agora estão a prestar serviços não são minhas e nem se quer pertencem aos meus colaboradores.

FACTOS DIÁRIOS: Com a nova gestão, liderada pelo Senhor Doutor, o hospital continua a ser uma preocupação por parte dos pacientes?

Dr. AE: Estamos a fazer o máximo para que esse discurso possa acabar da boca dos nossos utentes porque são afirmações que magoam qualquer profissional da saúde e, ainda mais, nas vestes de um gestor desta instituição. Ninguém vem à “Maria Pia” para morrer, a pessoa vem para este hospital para ser tratado, regressar com vida e ser reintegrado na vida social activa. Estamos a trabalhar para tirar da população este conceito erróneo. Para isso, é preciso mudar o paradigma, é preciso incutir aos nossos profissionais mais responsabilidade, comprometimento e empatia com os pacientes.

Este hospital está localizado no polo governamental das instituições, começando com o Palácio Presidencial, Palácio da Justiça, Assembleia Nacional, Ministério da Saúde. Por isso, não devemos tirar as expectativas, por ser o maior hospital do país e de última referência, temos que ter aqui profissionais de saúde em altura para prestar serviços de qualidade no atendimento aos nossos doentes. Apesar de não termos materiais suficientes, mas, pelo menos, fazermos a nossa parte já é muito bom. Mas isso passa pela mudança de mentalidade profissional e saber que aquele que está na cama poderia ser o meu irmão, esposa ou mesmo meu pai.

FACTOS DIÁRIOS: A direção do Hospital tem trabalhado na sensibilização dos seus técnicos para uma comunicação saudável entre o técnico de saúde e o paciente?

Dr. AE: Sempre. Semanalmente, tem havido duas reuniões institucionais, que acontece as terças e quintas-feiras. Há um ano que estamos aqui, sempre fazemos vincar estes aspectos das boas práticas de tratar bem o próximo, cuidar e preservar o bom nome da instituição, para isso, é preciso efectuar um atendimento que convença os utentes. Mas isso é um processo, uma vez que nem todos somos iguais, mas, há toda uma necessidade de juntarmos as energias para garantirmos serviços de qualidade aos nossos doentes que é objeto da nossa formação, são eles que justificam o nosso salário.

FACTOS DIÁRIOS: Já se pode falar de um atendimento de excelência no Hospital Josina Machel?

Dr. AE: Nós queremos realmente atingir a excelência, mas isto leva muito tempo. Estamos no bom caminho, penso que se continuarmos assim havemos de conseguir, mas isso não depende só da boa vontade da direcção do Hospital Josina Machel, há outras forças decisoras que concorrem para a melhoria porque há equipamentos de ponta que nós nem nos sonhos conseguiríamos contando o orçamento que temos.

Com o pouco que temos, nós fizemos a nossa parte, mas é preciso o envolvimento de todos para haver um atendimento de excelência.

FACTOS DIÁRIOS: Sobre os fármacos, em que ponto está o Hospital Maria Pia?

Dr. AE: Sobre os fármacos, consideramos nós que essa pandemia da Covid-19 veio rebentar com as nossas espectativas porque, quando nós entramos, tínhamos projectos que ficaram completamente goradas com a pandemia porque afectou as exportações e, com isso, causou escassez dos produtos. Com o fraco orçamento que temos, não é possível, logo, a quantidade dos produtos também baixa, infelizmente.

Ainda assim, mesmo nas dificuldades, temos tido apoio da estrutura central e vamos nos guiar naquilo que for possível para que não falte o mínimo para poder salvar os doentes que acorrem na nossa instituição.

FACTOS DIÁRIOS: O número de técnicos de saúde é suficiente para acudir a demanda?

Dr. AE: Não. Infelizmente não é suficiente. A luz dos estatutos orgânicos, tínhamos de ter mais de 2070 e temos apenas 1178 funcionários e, isso mostra um défice muito grande, mas a verdade deve ser dita: já tivemos menos do que isso.

FACTOS DIÁRIOS: Aqui também contam com os estagiários?

Dr. AE: O Hospital Maria Pia é um Hospital escola e, por ser esse hospital escola, faz sentido que tenha aqui convénio com todas instituições de formação, médias e superiores ao nível da saúde.

FACTOS DIÁRIOS: É vantajoso?

Dr. AE: Claro que sim. Se por um lado é bom para nós porque temos mão-de-obra, por outro lado é bom para os doentes porque têm mais pessoas a cuidar deles e estamos a dar oportunidades para os outros aprenderem. Os estagiários são sempre acompanhados dum profissional do Hospital, não devem efectuar qualquer intervenção sem o aval de um técnico profissional.

FACTOS DIÁRIOS: Contam com bons estagiários?

Dr. AE: É como em qualquer área do sabe há sempre bons profissionais, mas também há piores profissionais, em todo caso, sentimo-nos felizes porque há muitos jovens a se dedicarem na formação e estão aplicar muito bem.

FACTOS DIÁRIOS: Como está a tratar a situação da famosa gasosa entre os familiares dos doentes e os funcionários da sua unidade sanitária?

Dr. AE: Esta é outra bandeira da nossa direcção. Não podemos dizer que vamos acabar com a corrupção porque ela não acaba, mas é nosso objectivo levar ao mínimo esta prática que nós constatamos na empresa de segurança extinta, em conluio com os profissionais da saúde, desde os médicos, enfermeiros, maqueiros e não só. Quando os vigilantes estão envolvidos na rede da corrupção, a instituição fica ameaçada e deixa de ter ordem e, quando a ordem acaba, surge a anarquia e quando há anarquia, cada um faz o que quiser.

FACTOS DIÁRIOS: Muitos foram apanhados com esta prática e quais foram as medidas tomadas pela Direcção do Hospital?

Dr. AE: Quem é apanhado leva a medida merecida e por essas razões a empresa de segurança foi suspensa das suas actividades. Você vai cobrar alguém que veio pedir auxílio? Cobrar alguém que está necessitado? Isso só pode ser um cidadão desalmado mentalmente. Esse tem sido uma das bandeiras da nossa direcção.

FACTOS DIÁRIOS: Qual é a mensagem que gostaria de deixar aos utentes?

Dr. AE: Que continuem a acreditar porque a crença deles é um tónico para a nossa prestação. É bom saber que do outro lado há quem confia em nós. Por outro lado, quero pedir encarecidamente que não participem da prática de corrupção, vêm até a mim para juntos resolvermos o problema porque estou disponível a qualquer hora. Nós teríamos muito gosto de saber que agora a situação minimizou. Se os utentes ou familiares não denunciarem, nunca iremos de acabar com essas práticas, denunciem porque têm a protecção da Direcção do Hospital.

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