PAÍS: Lucros petrolíferos batem recorde enquanto população enfrenta crise humanitária

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Enquanto as receitas petrolíferas de Angola atingem níveis históricos, com um total de 2,9 biliões de kwanzas arrecadados nos primeiros quatro meses de 2024, a realidade para a maioria da população continua sombria. Apesar do aumento de 43% em relação ao mesmo período de 2023 e a superação das previsões do Orçamento Geral do Estado (OGE), a riqueza gerada pelo petróleo não tem traduzido melhorias nas condições de vida dos angolanos.


Por Joaquim Paulo

A economia do país, impulsionada por uma exportação diária média de 1,15 milhões de barris de petróleo e um preço médio de 80,59 dólares por barril, conseguiu arrecadar receitas fiscais petrolíferas que representam 60% das receitas fiscais totais e 53% das receitas correntes. No entanto, essa abundância contrasta fortemente com o sofrimento da população.

Dados revelam que as receitas fiscais petrolíferas superaram em 43% o valor arrecadado no primeiro quadrimestre de 2023, permitindo um superavit de 333,8 mil milhões de kwanzas. Este desempenho positivo deveria teoricamente proporcionar um alívio económico e social, mas a realidade no terreno é outra. Milhares de angolanos continuam a lutar contra a fome e a pobreza extrema.

“O valor obtido fixou-se acima das expectativas, mas para a maioria dos cidadãos, esses números significam pouco ou nada,” afirmou um analista económico que prefere manter o anonimato. “A distribuição desigual da riqueza continua a ser um problema crónico em Angola.”

Apesar do sucesso financeiro no setor petrolífero, o país enfrenta uma crise humanitária com a fome a ceifar vidas diariamente, particularmente entre a juventude. A situação agrava-se com altas taxas de inflação e juros de referência elevados, que aumentam o custo de vida e dificultam ainda mais a sobrevivência dos mais vulneráveis.

O Governo, enquanto celebra o desempenho económico positivo, precisa enfrentar a dura realidade das ruas. “As receitas petrolíferas deveriam ser um meio para melhorar a vida dos angolanos, mas infelizmente, vemos um abismo crescente entre a riqueza nacional e a pobreza do povo,” criticou um líder comunitário de Viana.

Enquanto o Governo continua a utilizar as receitas petrolíferas para suportar o serviço da dívida, que ronda os 14 biliões de kwanzas para 2024, a população questiona quando estas riquezas se refletirão em melhorias concretas nas suas vidas. Com 55% das receitas destinadas ao pagamento da dívida, a sensação de abandono e desespero cresce entre aqueles que mais precisam.

Este cenário evidencia a urgente necessidade de políticas mais inclusivas e de uma distribuição equitativa da riqueza nacional, para que o sucesso económico de Angola beneficie todos os seus cidadãos e não apenas uma elite privilegiada.

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