Mariano de Almeida analisa discurso do Presidente do MPLA na reunião do Comité Central

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OPINIÃO

Mariano de Almeida/ Jornalista e analista desportivo


Análise do Discurso do Presidente do MPLA, João Lourenço, apresentado hoje, dia 9 de outubro na reunião do Comité Central.

Disse João Lourenço:

“Não se vislumbram eleições gerais no país para breve, por não ser o tempo estabelecido pela Constituição, igualmente não se vislumbram eleições no Partido, por não ter chegado o momento estabelecido pelos nossos Estatutos. A política é um jogo e como em qualquer jogo ou competição só vencem as equipas cujos jogadores ou atletas se submetem à organização e disciplina do colectivo e respeitam as regras do jogo e a orientação da equipa técnica. Ninguém começa o jogo sem ouvir o apito do árbitro, ninguém inicia a corrida de atletismo sem ouvir o tiro de partida, sob pena de ser desqualificado e prejudicar a equipa. Estamos em plena competição, não podendo deixar-nos distrair por agendas que em nada ajudam a mantermos o foco na necessidade de cumprirmos com o programa de desenvolvimento nacional, com a necessidade da diversificação da nossa economia, de aumentarmos a produção nacional para garantir maior oferta de bens e de serviços, de aumentar as exportações e a oferta de postos de trabalho”

  1. Contexto de Transição Política e Partidária:
    Lourenço faz referência ao término iminente do seu mandato como líder do MPLA, mas deixa claro que, tanto no plano nacional quanto no âmbito partidário, ainda não é o momento de novas eleições. Ele estabelece que as eleições ocorrerão somente no tempo previsto pela Constituição e pelos Estatutos do partido. Esta menção é estratégica para reafirmar a sua liderança até o prazo oficial e acalmar possíveis tensões internas e controlar à sua eventual sucessão ou permanência na liderança do partido.
  2. Metáfora Desportiva:
    O uso de uma metáfora relacionada a jogos e competições desportivas serve para transmitir várias mensagens:
  • Disciplina e Organização: Lourenço enfatiza que, num jogo, só vencem aqueles que seguem as regras e respeitam as orientações da equipa técnica, ou seja, no caso do MPLA, aqueles que respeitam a liderança vigente e as normas do partido.
  • Autoridade do “Árbitro”: A ideia de que ninguém começa um jogo sem ouvir o apito do árbitro reflete a importância de uma liderança centralizada e de que qualquer movimento antecipado seria desqualificado, prejudicando a equipa (MPLA).
  • Competição em Andamento: Ao declarar que estão em “plena competição”, Lourenço sugere que o MPLA está numa fase crítica, onde a unidade é essencial para garantir o sucesso nas metas políticas e económicas.
  • No discurso de João Lourenço, a ênfase estava na necessidade de respeitar o apito do árbitro antes de começar o jogo e seguir as regras durante a competição. No entanto, antes do início de qualquer competição, as equipas passam por um período de treino e preparação. Isso é uma parte fundamental de qualquer campeonato ou corrida: garantir que os jogadores estejam prontos para competir no momento certo.
  • Seguindo essa linha de raciocínio, figuras como Higino Carneiro e outros potenciais candidatos à liderança do MPLA estariam, metaforicamente, num período de treino ou pré-temporada. Estão se preparando, desenvolvendo estratégias e a consolidar as suas redes de apoio, mas sem, no entanto, violar as regras estabelecidas pelo partido. Este tipo de preparação antecipada é natural e faz parte do processo de sucessão dentro de qualquer organização, desde que não ultrapassem os limites formais estabelecidos pelos estatutos.
  • Enfim, João Lourenço foca no respeito às regras e à organização do “jogo”, mas se olharmos sob a ótica da preparação, poderíamos argumentar que os potenciais candidatos estão simplesmente a se preparar para quando o momento certo chegar, sem desrespeitar as normas do partido. O “treino” ou a “pré-temporada” é legítimo, caso seja feito com responsabilidade e dentro dos parâmetros estabelecidos.
  1. Mensagem Implícita aos Opositores Internos:
  • Controle do Tempo e Liderança: Lourenço está claramente enviando uma mensagem a qualquer potencial candidato à sua sucessão no partido: não é o momento de pressões ou movimentações internas para disputar a liderança. Ele reafirma que o momento de transição será determinado pelas regras formais, e qualquer tentativa de desestabilizar essa ordem seria considerada prejudicial à equipa e ao partido.
  • Sinalização de Lealdade ao Coletivo: O discurso insiste na importância da disciplina e da organização do grupo, o que pode ser interpretado como uma advertência para que os membros do MPLA não atuem individualistamente, mas sim em prol do coletivo e do projeto de desenvolvimento nacional liderado por ele.
  1. Foco no Desenvolvimento Nacional:
  • Diversificação da Economia e Emprego: Lourenço tenta desviar o foco das questões internas do partido para os desafios nacionais mais amplos, como a diversificação da economia, aumento da produção nacional e criação de postos de trabalho. Este é um esforço para reafirmar a sua agenda política e garantir que o MPLA, sob sua liderança, permaneça focado nas promessas de desenvolvimento e crescimento económico.

Análise de Sentimento:
O discurso tem um tom predominantemente neutro a cauteloso, mas com momentos de firmeza e advertência, especialmente ao reforçar a disciplina e as regras a serem seguidas no partido. Com um certo tom ameaçador e uma clara reafirmação de autoridade e controlo.

Temas Relevantes:

  1. Sucessão Partidária: A transição de liderança no MPLA é um tema central, mas Lourenço procura contê-lo, através da desativação qualquer debate prematuro sobre o assunto.
  2. Unidade e Disciplina: A ênfase na disciplina colectiva sugere preocupações com divisões internas ou pressões por mudanças antes do momento adequado.
  3. Foco no Desenvolvimento Nacional: A agenda económica de diversificação e criação de empregos é reafirmada como a prioridade atual, desviando o foco das disputas internas.

Conclusão:
Este discurso de João Lourenço é uma clara tentativa de consolidar a sua posição de liderança no MPLA enquanto controla possíveis dissidências internas. Lourenço usa uma narrativa de disciplina e respeito às regras para manter a ordem no partido, enquanto coloca ênfase nos desafios económicos do país, sugerindo que qualquer foco em sucessão agora seria uma distração contraproducente.

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