JOE BIDEN: A face de novos tempos de escravidão?

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Desde a chegada do presidente norte-americano Joe Biden a Angola, a sociedade foi permeada por diversos debates acerca da sua visita à capital, Luanda.


José Semedo

Jornalistas, diplomatas e activistas têm-se manifestado nas suas redes sociais e na imprensa, expressando diversos pontos de vista que sustentem a verdadeira razão da visita – para uns, uma oportunidade para Angola; para outros, a venda da soberania do país.

A equipa de Biden aproveitou as tentativas de João Lourenço para retratar a visita como uma vitória pessoal.A data da visita de Joe Biden não foi por acaso.

Além de ser o término do seu mandato, considerada a “última cartada” do veterano na política externa e apontada por muitos internacionalistas e analistas de geopolítica como “o seu grande triunfo”, a data também coincide com o Dia Internacional para a Abolição da Escravidão.

A escravidão é um dos episódios mais terríveis e trágicos da história da humanidade. Por mais de quatro séculos, Estados do Ocidente, particularmente da Europa Ocidental, enriqueceram explorando milhões de homens, mulheres e crianças inocentes, tirados à força do continente africano.

No Ocidente, escravos eram geralmente utilizados para os trabalhos mais duros e, no Sul, eram forçados a trabalhar em plantações para o cultivo de índigo, tabaco, algodão ou arroz. Nos EUA, os escravos eram considerados legalmente como património pessoal, e a legislação protegia os direitos dos proprietários de escravos.

Assim, a exploração de escravos desempenhou um papel fundamental no surgimento do capitalismo norte-americano. Mesmo com este papel, os americanos criaram leis duras que segregavam a população negra, como a Lei Jim Crow. Milícias brancas formavam o Ku Klux Klan, um grupo de extermínio de negros. No cinema americano, filmes retratavam os negros da pior forma possível, e o maior exemplo é The Birth of a Nation, que por muito tempo era exibido aos membros do Ku Klux Klan.

Os americanos nada inventaram de novo. Antes deles, os seus antecessores britânicos praticaram crimes terríveis contra os povos nativos da Oceania, especialmente na Austrália e Tasmânia. A sua tradição de exterminar povos nativos tem como base o ideal calvinista, sendo o calvinismo uma vertente do protestantismo que acredita na “predestinação” – alguns povos seriam os “escolhidos por Deus”, e os outros, “perdedores” (em inglês, loser, que é o pior insulto para alguém nos EUA).

Isto é, aqueles que não são escolhidos e que, caso busquem a salvação, devem permanecer em postura de subserviência aos que foram escolhidos. Essa mentalidade do “escolhido e dos perdedores que devem servir ao escolhido” legitimou por séculos a escravidão e até hoje pode ser vista no cinema americano, onde um personagem é “escolhido” e todos devem “servi-lo, pois este levará todos à salvação”. Isto pode ser observado em grandes produções cinematográficas como Avatar e Duna.Angola parece ser vista como a nova “floresta” a ser explorada pelo “povo do céu” ou por algum grande empresário “escolhido” da América, quiçá tornar-se a “Duna” de algum velho barão armamentista ianque, muito diferente de Paul Atreides, personagem de Timothée Chalamet.

Os acordos que Biden pretende firmar em Angola incluem armas, pois, segundo a própria Angop, João Lourenço quer reforçar a cooperação em defesa e segurança com os Estados Unidos. Sim, estamos a falar de exercícios militares, acesso a escolas e academias militares, treino militar em Angola e outros tipos de cooperação, numa época em que a imprensa tem divulgado notícias alarmantes, como a visita de diplomatas ucranianos a Angola e a busca por “recrutadores com alta proficiência em língua portuguesa”.

De acordo com o analista de relações internacionais Victor Muhongo, em artigo escrito ainda em Outubro, os EUA podem estar a usar Angola como instrumento de desestabilização do continente africano.

Muhongo cita o portal congolês Africa Flashes, que indagou se os americanos farão em Angola o mesmo que fizeram no ex-Zaire, por intermédio do ditador Mobutu, usado por Washington para desestabilizar a região. Seria João Lourenço o novo Mobutu?

Independentemente da resposta, o facto é que, assim como a América fechou os olhos para as violações dos Direitos Humanos praticadas por Mobutu, Biden está a fechar os olhos para violações dos Direitos Humanos cometidas pelo governo de João Lourenço e do MPLA.

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