Caso Edeltrudes Costa o homem que está no olho do furacão
Edeltrudes Maurício Fernandes Gaspar da Costa (“Nandinho”, entre os amigos) cresceu no “Bairro Popular”, em Luanda, onde mantém fortes ligações.
Por redação do Factos Diários
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Poucos antes do fim do conflito armado, no tempo do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN), era Director de gabinete do então ministro do Comércio, Victorino Domingos Hossi, indicado pela UNITA.
Em Dezembro de 2002, Edeltrudes Costa foi nomeado para, em comissão de serviço, exercer as funções de assessor do Gabinete do Primeiro-Ministro, Fernando da Piedade Dias dos Santos (“Nandó”) para a Área Jurídica, Parlamentar e de Acompanhamento à Preparação e ao Controlo das Deliberações do Conselho de Ministros.
Dois anos depois, o ex-ministro da Administração do Território Virgílio de Fontes Pereira indicou-o para Vice-Ministro para os Assuntos Eleitorais. Por inerência de função o Ministro do MAT e o seu Vice, encabeçavam a extinta Comissão Interministerial para o Processo Eleitoral (CIPE), que tinha como tarefa a realização do registo eleitoral no País.
Aquando da aprovação da actual Constituição, em 2010, Edeltrudes Costa já se encontrava fora do Governo, exercendo advocacia na RCJE – Advogados Associados (antecessora da CFRA – Advogados Associados), fundada por Carlos Maria Feijó (CF) e Raul Carlos Vasques Araújo, juiz jubilado do Tribunal Constitucional.
Com o seu amigo Carlos Feijó a exercer funções de ministro de Estado e chefe da Casa Civil, Edeltrudes Costa viu o seu nome a ser proposto como administrador executivo da extinta Agência Nacional de Investimento Privado (ANIP).
Edeltrudes Costa seria retirado da ANIP em 2011 e, no início do ano seguinte, o seu nome foi proposto pelo MPLA, para integrar a Comissão Nacional Eleitoral (CNE), face à experiência acumulada nas eleições de 2008, em que na sua qualidade de vice-ministro do MAT, era ao mesmo tempo o coordenador adjunto da extinta CIPE.
Em meados de 2012, a então Presidente da CNE, Suzana Inglês foi forçada a renunciar o cargo na sequência de um acórdão do Tribunal Supremo que respondia a uma reclamação da UNITA sobre a sua falta de requisitos para o posto.
Enquanto se aguardava pelo concurso público para eleição de um novo líder, Edeltrudes Costa passou a presidente em exercício, em substituição de Suzana Inglês. Foi por seu intermédio que foi contratada a empresa espanhola INDRA para cuidar da logística eleitoral, apesar de, entre nove concorrentes, ter sido a que apresentou o orçamento mais alto.
Em meios da oposição, a empresa é considerada desde 2012 peça-chave na manipulação de resultados eleitorais pelo MPLA.
Era Edeltrudes Costa quem viajava para Espanha para contatos eleitorais e, quando o Tribunal Supremo indicou um novo Presidente da CNE, André da Silva Neto, numa primeira fase este dependia de Edeltrudes Costa para qualquer decisão. Na altura, Edeltrudes Costa era visto como “homem” da Presidência da República para controlar a CNE.
Vencidas as eleições de Agosto de 2012, José Eduardo dos Santos nomeou Edeltrudes Costa para o cargo de ministro de Estado e Chefe da Casa Civil ao lado de Manuel Hélder Vieira Dias Júnior (“Kopelipa”), este à frente da Casa de Segurança.
Como novo ministro junto à Presidência, propôs a aprovação de uma nova lei de investimento que retirava poderes à ANIP, transferindo algumas das suas competências para os ministérios, que passaram a ter gabinetes técnicos de investimento.
A ANIP foi reduzida à Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações (AIPEX), com competências de fazer marketing e atrair investimento e deixou de responder ao PR, passando a ser tutelada pelo Ministério do Comércio.
A confiança de José Eduardo dos Santos (JES) nas capacidades e dedicação de Edeltrudes Costa foi crescendo e quando trabalhava apenas da parte da manhã (08h-13h, normalmente), no período da tarde era Edeltrudes Costa quem geria o gabinete.
Alegando cansaço, em algumas ocasiões JES evitava ler despachos e relatórios, pedindo a Edeltrudes Costa que resumisse o conteúdo e trouxesse para assinar.
Neste período, Edeltrudes Costa persuadiu JES a nomear um novo ministro do Comércio, Fiel Domingos Constantino, em substituição de Rosa Escórcio Pacavira, sobrinha por afinidade de JES.
Seu amigo de longa data, Fiel Constantino passou também a controlar a APIEX, sucessora da ANIP.
Em 2015, JES afastou-o do cargo de chefe da Casa Civil, no seguimento de denúncias de envolvimento num esquema de fornecedores de alimentos para transferirem fundos para fora do País, centrado no Ministério do Comércio, que homologava algumas destas empresas perante o Banco Nacional de Angola (BNA).
Edeltrudes Costa era suspeito de receber subornos no exterior do País. JES exonerou-o, mas manteve-o por perto, numa outra função, desta vez a de Secretário-Geral da Presidência, órgão com competência de fazer gestão administrativa e da logística do Palácio Presidencial.
Em círculos políticos, a medida foi interpretada como cautela de JES devido às informações de Edeltrudes Costa sobre os processos eleitorais.
A “despromoção” na Presidência foi acompanhada da retirada por JES da proposta de Edeltrudes Costa para membro do Bureau Político do MPLA, mantendo-o apenas no Comité Central.
Com a saída de JES, em 2017, o novo PR João Lourenço (JL) recuperou-o para chefiar o seu gabinete. A relação de ambos é familiar: Edeltrudes Costa é pai de uma filha da Administradora Executiva do BAI, Inokcelina Ben’áfrica Santos, sobrinha da primeira-dama Ana Dias Lourenço, de que são padrinhos o actual casal presidencial.
Edeltrudes Costa é actualmente tido como o mais influente membro do regime – há quem o chame “o novo Kopelipa”, uma alcunha que o irrita.
Mantém relações próximas com o ex-ministro do Interior, Ângelo de Barros Veiga Tavares, cujo luxuoso “resort” no Kikuxi, arredores de Luanda, frequenta habitualmente. É também o protetor do ministro da Energia e Águas João Baptista Borges, cujas famílias (através das esposas) partilham negócios em comum no sector da Energia.
Outros dos seus homens de confiança são o secretário de Estado do Comércio, Amadeu Leitão Nunes e o jurista Arnito José Agostinho, nomeado em 2018, como PCA do Instituto Nacional de Apoio às Micro, Pequenas e Médias Empresas (INAPEM).
Marcy Lopes, do MAT, é também próximo de Edeltrudes Costa, que terá influenciado sobremaneira a sua escolha. São ainda conhecidas ligações de Edeltrudes Costa com o ministro dos Recursos Minerais e Petróleos, Diamantino Pedro de Azevedo.
A sua influência, incluindo na colocação de quadros da sua confiança no aparelho do Estado, está também patente na SODIAM, onde tem como homem de confiança José das Neves Gonçalves Silva, o único administrador que sobreviveu da anterior gestão.
Tal como JES, João Lourenço mantém inabalável confiança em Edeltrudes Costa, ignorando informações de que a sua rede tinha participado de um esquema paralelo de venda de diamantes em Antuérpia, envolvendo o Serviço de Inteligência Externa (SIE).
Para não melindrar o PR, as chefias do SIE e do Serviço de Inteligência e Segurança de Estado (SISE) passaram a ignorar quaisquer actos de corrupção ou irregularidades que envolvam Edeltrudes Costa.
Na mais recente rotação do Governo, João Lourenço, segurou Edeltrudes Costa apesar da recente exposição, através da comunicação social, do recebimento em 2013, quando era chefe da Casa Civil de JES, de USD 17,3 milhões – de Domingos Inglês, empresário próximo de “Kopelipa”.
A revelação é atribuída em meios do regime a uma vingança pessoal contra Edeltrudes Costa, por parte de elementos próximos de JES, que se sentem traídos por ele.
Fonte: Angonotícias