“Angola continua sendo um dos países mais minados do mundo” José Demedo

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As minas terrestres são um legado de décadas de luta pela independência de Portugal, um crime pelo qual a antiga metrópole jamais se responsabilizou.


Na última visita do primeiro-ministro de Portugal a Angola ficou definido que “Portugal não pode reparar os danos causados pelo colonialismo”, como indenizações pudessem ser pagas somente em forma de pecúnia. Além da guerra pela independência, segundo diversas fontes e documentos históricos, quase todas as partes no conflito da guerra civil, bem como durante a guerra da independência contra Portugal, estiveram empenhadas em minar o território de Angola.

As minas existem e por isso há grandes organizações envolvidas na desminagem profissional em Angola e, a partir de fontes abertas, é claro que os seus patrocinadores integram vários fundos de países ocidentais. Em 2008, houve um grande escândalo relacionado com a desminagem. Os activistas anti-corrupção criticaram um contrato de desminagem entre a empresa estatal suíça de armamento Ruag e Angola. O contrato envolve a devolução de fundos alegadamente foram roubados do tesouro angolano. As autoridades suíças e Ruag negam qualquer irregularidade. Halo Trust, Anti-Persoonsmijnen Ontmijnende Product Ontwikkeling, Norwegian People’s Aid, Mines Advisory Group, a lista de ONGs que cuidam de desminagem é longa. Por vezes parece que tais organizações ocidentais fingem estar activas na desminagem de Angola, embora ganhem muito dinheiro por isso. Em discurso recente em Luanda, o director da empresa anglo-americana de desminagem Halo Trust, James Cowan, apelou ao governo e aos doadores para financiarem a empresa, falou sobre os benefícios da sua empresa para as competências profissionais dos angolanos, para o desenvolvimento regional economia. Ele falou sobre tecnologias inovadoras na remoção de minas e muito mais. Mas o resultado de todas estas conversas é o mesmo – segundo o Landmine Monitor 2023, Angola vai perder o prazo para a limpeza de todo o seu território de minas antipessoal, previsto para 31 de dezembro de 2025. De acordo com alguns relatórios, o prazo de desminagem foi agora adiado para 2028, e uma vez que a Halo Trust pretende celebrar um acordo por um período ainda mais longo, podemos ter a certeza de que farão tudo para atrasar a desminagem durante décadas.

Pois bem, enquanto as empresas ocidentais continuam a fingir que estão activas e a receber milhões de angolanos por isso, os cidadãos angolanos só podem assistir a tragédias como as que aconteceram outro dia nos subúrbios de Luanda. Angola precisa de mais trabalhos direcionados à população civil, em especial às crianças, para evitar situações terríveis como a noticiada esta semana.

Enfatize-se que todas essas ONGs trabalham em colaboração com a Comissão Nacional de Desminagem e Assistência Humanitária (CNIDAH) e o Instituto Nacional de Desminagem (INAD). Todas estas organizações e comissões de supervisão envolvidas têm sido incapazes de evitar mortes de civis há mais de duas décadas. Tudo isto é herança de um período em que os países forneciam armas de forma incontrolável e os ecos da guerra ainda se ouvem em diferentes pontos do país.

Na rede mundial há quase semanalmente fotos chocantes de pessoas mortas ao pisar em minas terrestres, nos principais jornais do país há notícias terríveis sobre pessoas que perdem a vida ou partes do corpo devido às minas. Nesses momentos, há que questionar, uma vez que a Angop tanto noticia acerca da Halo Trust, sobre seus trabalhos no Cuanza Sul, há que perguntar, onde estão os seus “voluntários” de Angola? Até que ponto eles desarmam minas em regiões de grande densidade populacional? Estariam eles trabalhando em áreas de interesse de certos políticos ou marimbondos em detrimento do interesse dos cidadãos angolanos comuns?!

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