Adolescentes de 13 anos foram as que mais procuraram consultas Pré-natais. 89% praticavam prostituição por orientação dos pais
O aumento do número de adolescentes grávidas com idades entre os 13 e 17 anos nas consultas pré-natais está a preocupar a direcção da Maternidade Provincial do Cuando Cubango. No período de Janeiro a Julho deste ano, a Maternidade Provincial realizou 122 partos a gestantes adolescentes, sendo dois em parturientes de 14 anos e 120 a meninas com idades compreendidas entre os 15 e 17 anos.
Por Isidro Kangandjo
No mesmo período, foram igualmente registados 18 casos de abortos, dos quais um em adolescente de 14 anos e outros 17 em gestantes dos 15 aos 17 anos. Consta ainda nas estatísticas de Janeiro a Julho do ano em curso 263 adolescentes que engravidaram pela primeira vez.
A directora de Enfermagem da Maternidade Provincial do Cuando Cubango, Virgínia Manjolo, disse que o que mais preocupa a instituição é o elevado número de casos de gestantes em idade inapropriada, ou seja, de gravidez precoce, principalmente em meninas dos 13 aos 17 anos que estão a aparecer grávidas de forma sucessiva.
“O número nos assusta, porque registamos por dia mais de 30 adolescentes grávidas nas Consultas Pré-natais”, lamentou, defendendo a necessidade de se educar cada vez mais as crianças e adolescentes para se inverter o actual quadro.Virgínia Manjolo acrescentou que as crianças e adolescentes precisam ir à escola e entender outras coisas para o seu desenvolvimento integral, para que o seu futuro seja salvaguardado. “Por isso, temos que trabalhar a nível das comunidades para que possamos desempenhar um papel fundamental na educação das pessoas, sobretudo para evitarmos os números assustadores de gravidezes precoces na província”, defendeu.
A responsável apontou como principais causas do aumento da gravidez precoce as questões culturais e a pobreza extrema em muitas localidades da província. Segundo a directora de Enfermagem da Maternidade Provincial, há registo de muitas meninas a se prostituírem como forma de ganhar alguma coisa para comer ou levar para o sustento da família.
“O que está na origem disso é, principalmente, a questão cultural. Depois, a nossa realidade e a fome severa, se pudermos assim dizer em outras palavras, porque muitas meninas acreditam que, se se relacionarem com alguns homens, vão conseguir dinheiro para o seu sustento e atender outras necessidades”, lamentou. Virgínia Manjolo apelou à necessidade de se criarem políticas que visam ocupar as crianças e adolescentes em actividades escolares de qualidade e produtividade, assim como o reforço de programas educativos para que entendam que o sexo não é para a sua idade.
Este desafio, disse, deve contar, principalmente, com o apoio do Ministério da Educação, das famílias, das igrejas, das comunidades e dos órgãos de Comunicação Social, para que esta situação seja ultrapassada o mais rápido possível. Adolescentes seropositivas é Outra preocupação levantada pela directora de Enfermagem da Maternidade Provincial tem a ver com o facto de muitas dessas adolescentes estarem a envolver-se sexualmente com homens infectados com VIH/Sida, sem o uso do preservativo, mesmo sabendo do seu estado serológico. Sem avançar números, Virgínia Manjolo disse ser, também, assustadora a situação de adolescentes que são diagnosticadas com o VIH/Sida na Maternidade Provincial do Cuando Cubango durante as consultas pré-natais.
Segundo a profissional de Saúde, isto só está a acontecer por causa de muitos homens que perderam o senso de responsabilidade e que, ao invés de serem os principais protectores ou conselheiros, são os que se relacionam sexualmente com crianças e adolescentes em idade de serem suas filhas ou netas. “Os homens da nossa sociedade precisam de relacionar-se com mulheres em idade sexual activa ou que correspondam, porque nos últimos tempos estão a surgir crianças de 12 e 13 anos contaminadas, o que fica muito complicado, uma vez que são pessoas na flor da idade e futuramente podem espalhar a doença a outros adolescentes ou jovens”, lamentou.
Virgínia Manjolo defendeu a realização de um trabalho conjunto entre as autoridades sanitárias, as igrejas, as autoridades tradicionais, os órgãos de Comunicação Social e a sociedade civil em geral, no sentido de minimizar esta situação que considerou complicada, pelo facto de haver, inclusive, pais ou encarregados de educação que consentem ou mandarem as próprias filhas se prostituírem. Falta de acompanhamento
A directora de Enfermagem da Maternidade Provincial do Cuando Cuban- go lamentou, ainda, o facto das adolescentes grávidas aparecerem nas consultas pré-natais sozinhas sem o acompanhamento de um familiar adulto ou até mesmo do parceiro que a engravidou.
“Temos casos em que a criança vem sozinha. Eu chamo criança, apesar de ser gestante, porque as idades que apresentam não são ainda para gestação ou serem mães, uma vez que não estão preparadas para esta enorme responsabilidade”, enfatizou.Segundo a directora de Enfermagem, raras vezes as adolescentes gestantes são acompanhadas pela família e pouco menos pelos parceiros, que evitam dar a cara.
Por serem menores e sem qualquer experiência de vida, apelou aos parceiros a acompanharem-nas, de forma regular, nas consultas pré-natais, sobretudo para darem o apoio psicológico e o calor que elas precisam.
“Poucos parceiros acompanham as nossas mulheres grávidas. Queremos aproveitar a oportunidade para estender o convite aos homens para estarem presentes durante o desenvolvimento da gestação e, até mesmo, no próprio trabalho de parto, para que seja mais humanizado”, apelou. Registo de nascimentoO trabalho pós-parto na Maternidade Provincial inclui, também, a questão da identificação, ou seja, do registo de nascimento dos bebés.
Após o parto, disse, as pacientes não podem sair da Maternidade sem efectuarem o registo da criança que nasce, o que quer dizer que, dentro da instituição, existe uma equipa permanente da Delegação Provincial da Justiça e dos Direitos Humanos para o efeito.Virgínia Manjolo realçou que, depois da alta médica, as pacientes são acompanhadas até à sala de Registo de Nascimento para que saiam da Maternidade com a emissão da cédula do filho feita, excepto nos casos de fuga à paternidade.
“Existem situações em que, infelizmente, alguns homens não aparecem na Maternidade para poderem responder ao registo das crianças e as mesmas saem daqui sem serem registadas. Mas os dados são anotados e encaminhados para os órgãos competentes para o devido tratamento”, disse.Psicólogo clínico defende educação sexual abrangente.
O psicólogo clínico Januário Máximo explicou que a gravidez na adolescência pode acontecer quando as adolescentes não se sentem bem consigo mesmas, procurando carinho e atenção em relacionamentos.
“Se elas vêm de famílias onde não se sentem seguras, podem tomar decisões apressadas e arriscadas”, disse, acrescentando que a impulsividade, que é agir sem pensar nas consequências, também pode levar a comportamentos de risco.