A escola não está morta
Professor, escritor e pesquisador.
OPINIÃO
Se «as escolas tivessem documentos de identidade, elas seriam proposta pedagógica». Os pedagogos afirmam que somos uma sociedade baseada numa hierarquia de privilégios, pelo facto de a maioria das crianças do mundo não frequentarem escolas.
Segundo a UNESCO, poucas são as nações em que metade das crianças completa o primeiro ciclo do ensino fundamental numa escola. Todavia, isso não implica que sejam crianças deseducadas. Importa entronizar que a morte da escola não significa negar a possibilidade de existência de instituições para fins educativos.
O professor Everret Reimer, em 1983, disse que “a escola está morta”. Para Reimer, “curandeiros, sacerdotes, políticos e aproveitadores lutam entre si para manter as pessoas mergulhas em sua ignorância, desconhecendo sua própria condição”. Nisso são auxiliados pela miséria grandiosa em que vivem as vítimas, sem esperança que de modo algum pode ser justificada ou sequer disfarçada, para se tornar suportável. Para esses actores públicos, a educação não consiste em aprender a ler, mas em conscientizar sua miserável situação e tomar uma posição. Talvez isso envolva o aprender a ler, porém deve obviamente incluir muitas outras matérias sem as quais a capacidade de ler não teria valor.
As escolas são espaços organizados propostos para a sistematização do processo de ensino-aprendizagem, e as salas de aula são o lugar onde o professor e o aluno realizam tal actividade.
Pode parecer complicado, mas é muito simples, diz Narciso Damásio Benedito dos Santos, Director Provincial da Educação de Luanda. Parafraseando-o “ […] precisamos resgatar a confiança nas escolas”. Para aquele pedagogo, “o processo de resgate passa pelo diagnóstico, verificação e apreciação dos reais problemas da educação”. Certamente, os Directores Municipais da educação e os gestores escolares devem planificar as actividades educativas, mas antes devem recolher as informações importantes, a fim de formularem um juízo de valor e posteriormente tomar uma decisão em relação aos grandes desafios que se coloca à escola, pelo contrário podemos acusa-los como os verdadeiros assassinos da escola. A escola não está morta, “precisamos simplesmente repensar a escola e reformar o pensamento de gestão escolar”. O grande desafio consiste em avaliar os principais problemas da escola e verificar o que é possível fazer para concebermos mudanças substanciais na instituição.
É neste momento que as escolas devem expressar as suas autonomias criando projectos educativos com os quais se identifiquem e se diferenciem das demais instituições. A elaboração de projecto educativo deve obedecer as linhas de força da LBSEE n.º32/20, de 12 de Agosto e da LBSEE n.ª17/16, de 07 de Outubro, e o seu cumprimento é da incumbência de todos os membros da comunidade educativa. Esse período de elaboração deve ser visto como o momento alto da escola e deve envolver todos agentes da educação, desde os gestores das escolas aos encarregados de educação.
Nós entendemos que o projecto educativo deve resguardar o ideal da escola, pois deve propor acções concretas que dão respostas imediatas às reais necessidades e aos anseios da comunidade escolar. Ele define o perfil, o sujeito e a marca da instituição. A escola não está morta, ela só precisa de reformulação dos seus ideais. Os gestores escolares precisam reformar o pensamento sobre escola, para efeitos de inovações. O Contexto e a realidade das escolas remetem-nos a não fazer acusações à sociedade sobre as ineficiências das escolas, mas, apesar disso, precisamos criar coragem de desconstruirmos o projecto de escola que temos, pois o projecto que temos é o reflexo das escolas tradicionais que, infelizmente, não dá margem para as perspectivas de um futuro melhor para os nossos filhos.
A “escola que sonhamos para os nossos filhos não é essa”, mas sim aquela que está desenhada no Plano de Desenvolvimento da Educação de Luanda (PRODEL). Sonhamos com a escola que tem como base de acção educativa: visão, missão, valores, estratégias de trabalho e formas de avaliação que se ajustam aos padrões sociais. Assim como as pessoas são únicas, também as escolas constroem as propostas pedagógicas para se diferenciarem das demais.
Quando “a escola se preocupa em desenvolver competências, os conteúdos deixam de ser um fim em si mesmos” o professor passa de transmissor do conhecimento a facilitador da aprendizagem, a avaliação classificatória e excludente transforma-se em instrumento para guiar intervenções pedagógicas, e o aluno, antes passivo, torna-se participativo na construção seu do próprio conhecimento. Esta é a escola que sonhamos para os nossos filhos.
Não iremos no cortejo fúnebre da escola. Essa afirmação categórica não existe para os pedagogos, uma vez que o Ministério da Educação de Angola (MED) tem projectos viáveis e sustentáveis para alavancar a qualidade de educação. O MED tem orientado os Gabinetes Provinciais da educação a incentivarem as escolas para construírem propostas educativas, a fim de abrir caminhos para a concretização dos objectivos macros do sector. As teorias e as práticas educativas fazem das nossas escolas um espaço de reflexão profunda e do renascimento de uma sociedade aberta, capaz de melhorar e promover competitividade dos jovens na arena estudantil. Todavia, a ressurreição da suposta escola morta exigirá de nós novas concepções de reformas educativas. Precisamos contextualizar a escola, porque muitas delas demostram níveis de estrangulamentos muito altos, cujos resultados estão muito aquém do desejado. Se olharmos para esse paradigma, podemos concordar que algumas mudanças na escola podem ser inconvenientes. A escola que sonhamos é aquela em que todos os alunos podem “desenvolver o melhor de si, aprender a viver, aprender a criar, a prender a fazer, aprender a ser e a produzir conhecimentos”. O aluno deve saber relacionar-se com os diferentes, com os iguais e com isso, continuar a lutar pela sua felicidade.
Todos os professores devem procurar meios de educar seus alunos e de incentivar seus pares para o trabalho conjunto. Devem unir-se às famílias em processo de colaboração, buscar ajudas junto das outras categorias profissionais, e, se não conseguirem, devem criar demandas para as autoridades, para as comunidades, as academias e nunca devem deixar o aluno no fundo do posso. Não deve «fingir que ele é seu aluno e você é seu professor». A educação pressupõe crença, fé, determinação e benevolência para que aconteça a transformação desejada, por ser assim, devemos evitar fazer à curva da turma, como representação dos níveis de aproveitamento dos alunos. Nunca devemos conformar as estatísticas e prever, já no meio do ano, quais os alunos terão sucesso e quais não terão, porque isso “mata a verdadeira ideologia da escola nova”.
O QUE DEVE SER, DE CONCRETO, A ESCOLA?
A escola deve ser um local onde todos estejam comprometidos com a educação. Seja ela pública, privada ou publico-privada, precisa ter um óptimo sistema de gestão escolar. Este último é um antídoto para manter a escola viva. A escola deve estar preocupada com a formação das pessoas, deve exercitar a cidadania, a fim de qualificar o individuo para o trabalho.