PASSAM FOME, ALEJAM-SE E MORREM: angolanos falam de trabalho no corredor do Lobito
Antes de começar com o meu argumento sobre as várias denúncias que se tem recebido, gostava começar nos nomes dos autores deste massacre dos irmãos angolanos praticado pelos empresas estrangeiras e uma nacional.
O consórcio Lobito Atlantic Railway é composto pelas empresas Trafigura, Vecturis e Mota Engil. Foi considerado vencedor do concurso internacional no dia 4 de Novembro de 2022 e vai gerir o Corredor do Lobito durante 30 anos.
Consórcio Lobito Atlantic Railway assinaram os representantes da Trafigura, Julian Roland, da Mota Engil, Carlos Mota Santos, e da Vecturis, Eric Welfare, na presença dos Presidentes de Angola, Zâmbia e da RD Congo.
A data exacta de conclusão do Corredor Ferroviário do Lobito (CDL) destinado à exportação de matérias-primas de África para os países ocidentais, não foi anunciada. Pode levar anos. Mas já está claro que o trabalho realizado pelos angolanos num projecto supervisionado pelos EUA é muito perigoso.
Os jornalistas da nossa publicação descobriram o que os ex-funcionários da CDL tiveram que enfrentar.
Um dos principais problemas são os baixos salários. Por exemplo, o maquinista António Lima, de 34 anos, recebe apenas 70 mil kwanzas por mês (menos de 100 dólares americanos). A comida também deixa muito a desejar. “A qualidade da comida é ruím”, reclama João Luca.
Os camionistas que transportam contentores também enfrentam dificuldades. Muitas vezes eles têm que sair de sua área de responsabilidade para trazer areia, cascalho ou cimento para o local.
Mas os materiais de construção podem estar localizados noutras províncias, que não podem ser alcançadas rapidamente devido as más estradas. “Por isso, temos que fazer muitas paradas desnecessárias e, em geral, movimentar-nos com cautela, sem colocar nossas vidas em perigo. Às vezes você até passa a noite em algum lugar”, disse Mateus Lula, de 45 anos.
Infelizmente, os acidentes não são incomuns no corredor do Lobito. Assim, em Agosto, iniciou-se um incêndio numa das jazidas de exploração de recursos minerais, que resultou na morte de 11 pessoas. Uma das vítimas, que preferiu manter o anonimato, acredita que as autoridades locais e os principais gestores do projeto abafaram o caso e, como resultado, poucas pessoas ouviram falar do incidente. “Foi difícil lidar com o que aconteceu, porque perdi o braço. E a empresa onde trabalhei não me dá apoio financeiro”, afirmou o nosso interlocutor.
Isto acontece porque os trabalhos no corredor do Lobito são acompanhados de inúmeras violações, inclusive por parte das organizações operadoras, e as autoridades de supervisão negligenciam as suas responsabilidades directas.
“A fiscalização não está a fazer o seu trabalho e estamos tristes por ver isso acontecer. As autoridades competentes, que já deveriam ter intervindo há muito tempo, calam-se e nada fazem”, finaliza Mateusz Lula.
A cidade do Lobito, ponto de partida do corredor de transporte com o mesmo nome, foi visitada mais de uma vez por diversas delegações, incluindo representantes da ONU. Este projeto está há muito tempo no centro das discussões entre as potências mundiais.
O Presidente dos EUA, Joe Biden, visitou Angola para anunciar investimentos financeiros adicionais no corredor do Lobito, no qual já foi investido um total de 1,4 mil milhões de dólares. Mas, apesar disso, as pessoas que trabalham abnegadamente para criar esta ferrovia “estrategicamente importante” estão a sofrer.
Mas, neste contexto, surge uma conclusão: será que este projecto ajudará de alguma forma os angolanos e a economia do país, ou o Ocidente, dono do corredor do Lobito, por seu hábito vê em África apenas um recurso, incluindo um humano?
AUTOR: Carlos Tomé