INE ´zomba´ agentes de campo: Ameaças e pagamentos atrasados incentivam recenseadores a manipular dados
O Censo 2024 em Angola está a ser marcado por uma série de falhas e desorganização. Desde constantes adiamentos, problemas técnicos com o aplicativo de recolha de dados, até ao não pagamento de subsídios aos recenseadores, o processo encontra-se em risco de gerar resultados completamente distorcidos sobre a população e habitação do país.
Por Feliciano Jacinto
O tão esperado Censo 2024 em Angola está envolto em controvérsia e caos. Recenseadores por todo o país têm vindo a denunciar uma série de falhas técnicas e operacionais, ameaçando a integridade dos dados a serem recolhidos.
De acordo com relatos de agentes envolvidos no processo, a que o Factos Diários teve acesso, a falta de condições para o trabalho tem-se agravado, com falhas constantes no aplicativo destinado à recolha de dados e a inexistência de suporte técnico eficaz.
“Há dias em que simplesmente não conseguimos usar o aplicativo, e temos que recorrer a métodos manuais, o que acaba por aumentar os erros e atrasar o processo”, afirmou um dos recenseadores destacado no município do Cazenga.
Esta falha tecnológica tem sido apontada como um dos principais motivos para o adiamento do censo, que já foi postergado por várias vezes, frustrando as expectativas do público e aumentando as suspeitas sobre a sua eficácia.
Além disso, há um descontentamento generalizado entre os agentes de recenseamento devido ao não pagamento dos subsídios prometidos. Muitos deles estão a trabalhar sob condições financeiras precárias, até ao momento, há quem ainda não recebeu os primeiros e únicos 22.500 kz referente a primeira prestação da merenda, com o Instituto Nacional de Estatística (INE) a falhar no cumprimento das suas obrigações.
“Trabalhamos sob ameaças constantes de termos os contratos cancelados, mas ninguém fala sobre o facto de não termos recebido os nossos subsídios. Estamos a ser tratados como descartáveis”, denunciou outro recenseador.
As ameaças diárias por parte do INE, que tem pressionado os agentes para cumprir metas impossíveis sem oferecer o devido suporte, aumentam a tensão no terreno. A desorganização institucional, aliada a estas práticas, levanta sérias preocupações sobre a qualidade e veracidade dos dados que serão obtidos.
Especialistas já começam a questionar a fiabilidade dos resultados, afirmando que um censo realizado sob estas condições dificilmente refletirá a realidade populacional de Angola.
“O censo é um instrumento vital para o planeamento do desenvolvimento do país, mas se for mal feito, poderá ter consequências devastadoras. As falhas técnicas, a falta de pagamento e as ameaças aos recenseadores são sinais de que os dados recolhidos podem ser gravemente comprometidos”, comentou um especialista em estatística, alertando para o impacto que isto poderá ter nas futuras políticas públicas.
Com a aproximação do final do processo, o clima de incerteza persiste. Sem uma resposta clara do INE, que até agora se tem mantido em silêncio sobre as críticas, o futuro do Censo 2024 em Angola parece mais incerto do que nunca. Para muitos recenseadores, a única certeza é que os resultados serão tudo menos fiáveis, colocando em risco a credibilidade de um dos principais instrumentos de desenvolvimento do país.