O populismo que amarra a justiça e as lágrimas da Primeira Dama
OPINIÃO
Franklin Firmino
Uma mensagem que eu queria passar directamente aos senhores magistrados, vocês têm o vosso poder, vocês são uma instituição independente do poder executivo, mas por favor, o que nós acabamos de ouvir, um pai que viola uma filha de 2 anos, fica duas semanas na cadeia…e o Procurador ou o juíz diz que tem que ir porque não tem prova? O quê que faltou?… O quê que faltou?Eu peço desculpas, não poderia sair desta sala, sem dizer que eu vou me empenhar pessoalmente para que isto termine, na nossa terra, obrigada”, lamentou a Primeira Dama da República.
Esta intervenção da (ainda) Primeira Dama da República de Angola, obrigado-nos a olhar com olhos de ver e ouvir mais que uma vez.
Parece evidente que a senhora perfilou-se não corrida a sucessão do presidente.
A nossa Primeira Dama assumiu que vai pressionar a justiça, sempre em função do que ela considere correcto, seja de senso comum e manda às urtigas as Leis!
A mais que provável candidata do Presidente João Lourenço, à sucessão do Presidente João Lourenço, a Srª Ana Dias Lourenço, esposa do Senhor João Lourenço, disse que os órgãos de justiça são independentes do poder executivo, o que faz com que questionemos, como é que ela, que não é nem poder executivo (ainda) não é poder legislativo vai se empenhar para que as decisões de procuradores, magistrados ou juízes sejam diferentes? A tal independência que ela reconhece é essa?
Depois é preciso que alguém (ainda se vai a tempo) tenha discernimento e alerte para a perigosidade do populismo para ganhar simpatia.
A nossa PD é mulher, é mãe…mas quando se dirige à plateia, e antes de tudo a esposa do mais alto magistrado da nação! Tem de obedecer ao dever de recato!
Uma acusação pública de violação (ou outra qualquer) em rigor, não faz do suspeito réu ou criminoso!
Camarada Ana Dias Lourenço, nossa “mamoite” a independência da justiça é aferida (também) pela capacidade dela mesma identificar o suspeito, instaurar o inquérito, recolher provas, constituir arguido, levá-lo à julgamento, sobre ele recair uma sentença, a sentença transitar em julgado! Isto é o que dita a Lei.
A Srª Ana Dias Lourenço, na qualidade de Primeira Dama, de ex ministra, de mulher e mãe, ou de candidata do seu esposo à presidente do MPLA, não tem qualquer autoridade para alterar isto. Pode chamar o batalhão de juristas que à Presidência da República tem e perguntar-lhes.
Ficou bem na foto porque “comoveu-se” e comoveu quem a ouviu e viu…mas esta sua comoção não devia ser selectiva!
Todos sabemos de arbitrariedades que se cometem contra os “presos pessoais” do seu esposo. Todos sabemos da violação das leis protagonizadas por auxiliares do seu esposo…então? As vítimas não merecem a sua “bondade” nossa mamã Primeira Dama?
Aquele Zenu que o tribunal superior já ilibou não é pessoa? Não é angolano? Não merece “lhe chorar” também diante de microfones e câmaras para lhe devolverem o passaporte?
Mas compreendemos.
A Srª marcou o primeiro passo na caminhada para a cidade alta…
Obviamente que conseguiu a simpatia de todas as mulheres…mas devia ter um papel pedagógico e explicar às pessoas, que justiça não é só quando nos beneficia ou quando atende a nossa vontade!
Pelo meio há as atenuantes e as agravantes!