CORRUPÇÃO NAS ESCOLAS: Funcionários cobram até 400 mil Kz por vaga no II Ciclo

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Luanda vive uma onda de corrupção nas escolas públicas do II ciclo, onde funcionários exigem até 400 mil Kz por vagas para o próximo ano lectivo. O Ministério da Educação promete medidas severas, mas pais e alunos continuam a sofrer.


Por Joaquim Paulo

Pais e encarregados de educação em Luanda denunciaram, recentemente, um esquema de corrupção nas escolas públicas do II ciclo, onde professores e funcionários administrativos vendem vagas para novos alunos a preços exorbitantes, variando entre 50 mil Kz e 400 mil Kz. Esta prática clandestina, mas crescente, foi revelada após visitas realizadas pelo jornal Expansão a mais de uma dezena de escolas públicas.

As instituições de ensino técnico destacam-se como as mais cobiçadas e, consequentemente, as mais caras. Entre as escolas com preços mais elevados estão a Escola de Formação de Técnicos de Saúde de Luanda (EFTSL/Ex Instituto Médio de Saúde – IMS) e o Instituto Médio Industrial de Luanda (IMIL), onde garantir uma vaga pode custar até 400 mil Kz. “No ano lectivo passado, a minha filha ficou sem estudar porque não consegui pagar o colégio onde estava. Juntei 400 mil Kz e paguei a um conhecido na EFTSL para garantir uma vaga”, contou Edvânia Pereira, mãe de uma aluna de 17 anos.

Outras escolas do II ciclo, como as do “Puniv-Centro Pré-universitário”, apresentam preços mais acessíveis, com vagas comercializadas entre 50 mil Kz e 150 mil Kz. Um professor de um desses organismos, sob anonimato, admitiu colaborar com colegas para “ajudar” alunos necessitados.

Este esquema de venda de vagas não é recente. Em Luanda, a crescente procura por educação pública tem sobrecarregado as escolas, já que a construção de novas salas de aula não acompanha o aumento populacional. O presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira, denunciou a corrupção endémica nas escolas públicas, afirmando que “não se estuda nelas sem pagar entre 200 mil Kz e 300 mil Kz”.

A Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino, no artigo 11º, assegura a gratuitidade do sistema educativo, proibindo qualquer tipo de pagamento para inscrição ou assistência às aulas. No entanto, a realidade descrita pelos pais e estudantes contrasta fortemente com a legislação, expondo uma falha grave na fiscalização e na implementação das políticas educacionais.

Com o início do ano lectivo 2024-2025 a aproximar-se, o Ministério da Educação (MED) prometeu uma resposta firme para combater esta prática. “Estamos atentos e vamos agir com mão pesada”, afirmou um representante do MED. A expectativa é que ações concretas, incluindo a colaboração com a Polícia Nacional e o Serviço de Investigação Criminal (SIC), possam reverter este cenário e garantir o direito à educação para todos os estudantes angolanos.

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