Cidadão é humilhado por funcionários do posto do MIREX no SIAC Talatona
Um cidadão, identificado apenas como Pedro, diz ter sido humilhado por funcionários do posto de registo de documentos afecto ao Ministério das Relações Exteriores (MIREX), localizado no interior do SIAC-Talatona.
Por Isidro Kangandjo
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Segundo denunciou-nos o cidadão, eram 5h15 quando chegou ao local, ainda muito cedo, com o intuito de marcar o seu lugar numa lista que habitualmente é preenchida antes da abertura das portas daquela instituição.
Contra todas as expectativas, disse o cidadão, quando parecia que seria um dos primeiros a ser atendido, já que, na altura, apenas uns poucos se encontravam no local, na lista onde foi convidado a escrever o nome já havia, na sua frente 44 pessoas. Ainda assim colocou o seu nome na referida lista.
Foi após a abertura das portas daquele estabelecimento de atendimento público do MIREX, no Talatona, que o Pedro começou a viver um autêntico martírio.
“Disseram-me que, para ser atendido, era necessário colocar o nome na lista. Fiquei à espera. Foram chegando mais pessoas, tendo, inclusive, algumas destas pessoas, perguntado a mim qual era o procedimento do atendimento. Mas, qual não foi o meu espanto, a medida que as pessoas iam chegando, depois de mim, muitas delas informadas por mim, foram sendo atendidas”, explicou o cidadão, de 54 anos.
Nessa ocasião, Pedro apercebeu-se que os funcionários estariam, alegadamente, a priorizar pessoas que estavam dispostos a pagar uma “gasosa” para serem atendidas com urgência, usando uns jovens que se colocavam na parte de fora do SIAC Talatona, e que tratavam de fazer chegar a documentação ao posto do MIREX.
Inconformado com tudo quanto estava a acontecer e, sobretudo, incrédulo com o que estava a assistir naquele posto afecto a um departamento ministerial importante na promoção da imagem do país, Pedro procurou saber as razões que o levavam a não ser atendido, quando estava a ver pessoas sem o nome na lista a chegarem e entrarem.
“Pretendia reconhecer o certificado de habilitações do meu filho, que está na Europa. Perguntei a uma funcionária, porque que não estava a ser atendido. Cheguei ao local às 5h15 e só tratado desta forma, quando pensava que seria um dos primeiros. Tentei forçar a minha entrada e fui interpelado pelo segurança. Expliquei que tinha chegado primeiro e que estavam a colocar pessoas a minha frente!”, exclamou o cidadão, visivelmente agastado.
Naquele “bate boca” com o segurança, contou ainda o senhor Pedro, apareceu uma senhora que estava de serviço que, de forma arrogante, interrompeu o diálogo, e simplesmente mudou o cenário de atendimento para uma outra porta.
“Senti-me injustiçado. Esperava dela um bom-senso, tendo em conta os factos que fui narrando. Disse a ela que sou oficial superior da corporação, tenho 54 anos, e estou a ver pessoas com menos idade a passarem a minha frente. Mas ela nem sequer deu-me ouvidos. De forma arrogante, pediu-me o bilhete de identidade e apenas disse-me que só tem prioridade as pessoas com 60 anos, sem avaliar para o facto de ter chegado cedo ao local e ter o nome na lista de pessoas que pretendiam ser atendidas!”, deplorou o mais-velho.
Decidido a inverter a situação, procurou ajuda na direcção do SIAC mas, posto lá, disse ter notado que havia um “complot” entre os funcionários daquela instituição, sendo que nada se alterou, ou seja, não foi tido e nem achado.
“Primeiro fui desinformado, porque não quiseram mostrar onde ficava a direcção. Cheguei no primeiro andar, perguntei onde ficava a direcção do SIAC, aconselharam-me a ir para a coordenação, onde encontrei uma senhora simpática, que se notava, já conhecia do assunto. Era uma equipa de gente arrogante, mal preparada para estar numa repartição pública e que fizeram um bloqueio à minha pessoa, para que não fosse atendido”, disse.
De acordo, ainda, com o cidadão em causa, o que ouviu na coordenação foi apenas que não podiam fazer nada, porque estavam com escassez de pessoal, ao que respondeu que estava arrependido por acordar às 5h15 para estar naquele SIAC e ser atendido como se de um animal se tratasse.
“Disse-o que nunca mais voltaria ao SIAC do Talatona. Também sou servidor público e nunca tratei assim as pessoas e acredito que falta alguma formação nas pessoas que aí trabalham. Fui a direcção, chegou uma senhora que me atendeu no corredor. Senti que os meus direitos estavam a ser violados. O pior é que nem um livro de reclamações existe naquela instituição pública”, lamentou o senhor.
“Ao descer para ir embora, cruzei-me com uma outra senhora do SIAC, que me pediu que explicasse o assunto, mais uma vez contei a história, ouviu-me atentamente, super educada, e mostrou-me mais outra senhora, porém, sem resultados. Acabei por deixar o SIAC sem ter sido atendido”, afirmou, estupefacto.
O cidadão considera “muito grave” tudo que aconteceu, para a imagem de uma instituição com a responsabilidades que tem o Ministério das Relações Exteriores (MIREX), tendo apelado ao ministro Téte António ou quem de Direito, a rever o nível de preparação dos funcionários que estão em serviço naquele posto de registo de documentos no SIAC Talatona.
“Abandonei o local muito magoado. Fui simplesmente humilhado e gostava de fazer um apelo, porque a área do MIREX é muito sensível e importante para o país, pois é responsável pela promoção da imagem de Angola ao mundo e não fica bem as pessoas que procuram os seus serviços serem maltratadas por gente que não sabe lidar com os utentes. Não sei se estas pessoas que prestam serviço ao MIREX, no SIAC, são quadros do ministério, creio que não, porque precisam fazer uma reciclagem, para se evitar que manchem assim a imagem país. Hoje fui eu a ser tratado desta forma, amanhã pode ser um estrangeiro. São pessoas que ainda convivem com o nepotismo e acreditam que nunca serão sancionadas, por serem familiares deste ou daquele governante. Assim não se desenvolve o país”, acrescentou.
Entretanto, procuramos ouvir o MIREX sobre este assunto, mas todas as nossas tentativas redundaram em fracasso.
Consta, no entanto, não ser o primeiro caso de maus-tratos de cidadãos naquele posto do MIREX no SIAC Talatona, onde já se conhecem várias outras denúncias de tratamento desigual aos utentes.