A IDENTIDADE CULTURAL NA RESISTÊNCIA DOS JINDEMBU: O CASO DE NAMBUANGONGO (1872-1919)

0

OPINIÃO

MATONDO DAMIÃO CARDOSO SIMÃO

matondodamiao@gmail.comTel:244 939 497273. Professor de Ensino de História do Iº Ciclo do Colégio Sacrinorsacrigina@yahoo.com.br/gsnescola@gmail.com.Tel: 244 935322482/926041058


[1] Mestrando na Universidade Metodista de Luanda no Curso de Gestão Ambiental, na Faculdade de Engenharia e Arquitectura ano Lectivo de 2022 a 2023. Licenciado em Ensino de Educação na opção de História, na Escola Superior Pedagógica do Bengo Região Académica I ◊ Luanda ◊ Bengo ◊. Departamento de Ciências Sociais. Projecto RESIDEM (Resistências do Jindembu/Dembo Coordenado Dr. James Fernando Bambi). Este Artigo Científico Resulta da Monografia na Licenciatura em Caxito 13 de Abril de 2019.


Sumário: 1.Introdução: 2.Contexto, 3.Relevância Cientifica, 4.Metodologia; 5 Definições de termos e Conceitos: 6.Identidade Cultural, 7.Resistência Cultural, 8.Revolta, 9.Jimdembu, Os resultados: 10.Relações entre portugueses e os nativos, 11.A Identidade Cultural como Forma de Resistência, 12.A Religião como forma de Resistência, 13.A língua como forma de Resistência, 14.A música como forma de Resistência Cultural 15.Considerações finais; 16.Referências Bibliográficas.

Resumo: A luta para conquista de Angola foi um acontecimento dramático de repercussões históricas profundas tanto para Angola como Portugal. Antes e depois da Conferência de Berlim (1884-1885), os portugueses colocam em marcha ao avanço a território angolano para dominação, tendo se verificado como resposta por parte dos angolanos um conjunto de resistências e revoltas contra a penetração e dominação portuguesa, todavia, o trabalho privilegia uma abordagem exclusiva a Identidade Cultural na Resistência do Jindembu: Caso Nambuangongo no período compreendido entre 1872 a 1919. Foi evidente na preservação da sua cultura, visto que a identidade deste povo foi uma estratégia aplicada como forma de resistência contra a dominação portuguesa e a mesma serviu como fonte de inspiração para a independência conquistada em 1975.

 O presente trabalho tem o objetivo de discutir e rever algumas proposições teóricas e conceituais desenvolvidas nas últimas décadas sobre a identidade cultural e aplicá-lo ao contexto da resistência contra à penetração portuguesa em Nambuangongo.

O tema em destaque integra as linhas de investigação do projecto RESIDEM (Resistências do Jindembu). A pesquisa, subordina-se o seguinte problema científico: Qual foi o Impacto da Identidade Cultural na Resistência do Ndembu Nambuangongo? A presente pesquisa tem como objecto de estudo: A Identidade Cultural do Ndembu Nambuangongo. O campo de acção é a região de Nambuangongo. Ao realizar-se este trabalho se pretende alcançar os seguintes objectivos: Objectivo geral: Analisar a Identidade Cultural na Resistência do Ndembu Nambuangongo (1872-1919). Este objectivo geral se operacionalizará nos seguintes objectivos específicos: Caracterizar a região de Nambuangongo antes da chegada dos portugueses em seus domínios; Identificar as principais manifestações culturais de Nambuangongo; Avaliar o contributo da resistência cultural de Nambuangongo no contexto geral da resistência do Jindembu.

 Na perspectiva de se encontrar respostas antecipadas ao problema levantado se formulam as seguintes hipóteses:

1.A identidade cultural foi um dos factores para a resistência contra a dominação portuguesa na região de Nambuangongo uma vez que os nativos já tinham os seus hábitos e costumes que procuraram conservar em detrimentos daqueles veiculados pelos portugueses;

2. Durante a ocupação portuguesa na região de Nambuangongo, a identidade cultural foi usada como arma para inviabilizar a imposição da cultura portuguesa e os seus ideais impulsionaram a luta de libertação de Angola que culminou com a independência em 1975.

Palavras-chave: identidade cultural, cultura, Ndembu, resistência cultural, revolta.

Luanda, 09 de Junho de 2023

Abstract: The struggle to conquer Angola was a dramatic event with profound historical repercussions for both Angola and Portugal. Before and after the Berlin Conference (1884-1885), the Portuguese set in motion the advance to Angolan territory for domination, having been verified as a response by the Angolans a set of resistances and revolts against Portuguese penetration and domination, however, the work favors an exclusive approach to Cultural Identity in the Jindembu Resistance: The Nambuangongo Case in the period between 1872 and 1919. It was evident in the preservation of their culture, since the identity of this people was a strategy applied as a form of resistance against Portuguese domination and it served as a source of inspiration for the independence gained in 1975.

This work aims to discuss and review some theoretical and conceptual propositions developed in recent decades about cultural identity and apply it to the context of resistance against Portuguese penetration in Nambuangongo. The highlighted theme integrates the research lines of the RESIDEM project (Resistências do Jindembu). The research is subordinated to the following scientific problem: What was the Impact of Cultural Identity on the Resistance of the Ndembu Nambuangongo? The present research has as object of study: The Cultural Identity of the Ndembu Nambuangongo.

The field of action is the Nambuangongo region. By carrying out this work, we intend to achieve the following objectives: General objective: To analyze the Cultural Identity in the Resistance of the Ndembu Nambuangongo (1872-1919).

This general objective will be operationalized in the following specific objectives: Characterize the region of Nambuangongo before the arrival of the Portuguese in its domains; Identify the main cultural manifestations of Nambuangongo; Evaluate the contribution of Nambuangongo cultural resistance in the general context of Jindembu resistance. With a view to finding early answers to the problem raised, the following hypotheses are formulated:

1. Cultural identity was one of the factors for resistance against Portuguese domination in the Nambuangongo region, since the natives already had their habits and customs that they sought conserve to the detriment of those conveyed by the Portuguese;

 2. During the Portuguese occupation of the Nambuangongo region, cultural identity was used as a weapon to prevent the imposition of Portuguese culture and its ideals boosted Angola’s liberation struggle that culminated in independence in 1975.

Key words: Cultural Identity, Culture, Ndembu, Cultural Resistance, Revolt.
 

1.Introdução

As fontes históricas revelam-nos que a História de Angola foi feita com pólvora e sangue. As resistências em Angola eram polimorfas, contudo ocorriam amiúdes. “Angola foi o país da África tropical em que as etnias locais resistiram mais vigorosamente ao domínio europeu no princípio do século XX”. A presença europeia e particularmente a portuguesa no nosso território, não era bem vista, isto porque tinha uma política colonial que deixava os nossos antepassados sem expressão, o que fez gerar um conjunto de resistências, a exemplo do Jindembu um subgrupo que integra o grupo dos ambundu[1].

Vários pesquisadores são unânimes em afirmar que a conquista não foi fácil para os portugueses, embora munidos de canhões, armas de repetição e outros meios modernos da é poça a intensidade das campanhas africanas aumentou significativamente ao longo do século XIX e estendeu-se até pouco depois da Primeira Guerra Mundial.

Henrique Galvão, afirma que,

“É um dentre dos vários pesquisadores que reconhece as dificuldades com que os portugueses se depararam nos Jindembu, em seu entender, a ocupação dos Jindembu é sem dúvida, a mais esforçada e angustiosa de quantas se realizaram em Angola, desde as primeiras operações para realizar a ocupação militar total do nosso território”[2].

Partindo da afirmação de Galvão, se pode depreender que as dificuldades com que se depararam o Jindembu não resultaram de uma casualidade, mais sim devido às respostas que o Jindembu deram para inviabilizar ou dificultar as pretensões portuguesas através de uma diversidade de acções pela qual acabariam por se expressar ou manifestar a resistência deste povo que almejava salvaguardar a soberania temporal e a sua identidade cultural.

Atendendo ao facto de que o Jindembu, não constituíam uma entidade política centralizada, os diversos poderes locais da região vão em diversas etapas da resistência ofereceu distinta reposta, tendo em conta o contexto local, dai a pare da resistência militar, política e económica, ter sido usada a identidade cultural como uma das armas a dispor do Jindembu. Na região de Nambuangongo, zona com forte tradição cultural, a identidade cultural não foi posta de parte no âmbito da resistência contra a penetração portuguesa nos seus domínios.

Os depoimentos dos oficiais portugueses envolvidos nas campanhas de ocupação efectiva de Angola (Paiva Couceiro, João de Almeida, entre outros) consideram a ocupação do Jindembu como sendo a mais difícil e duradoura entre todas que se realizaram em Angola, mas que, hoje pouco ou quase nada se escreve sobre a História desta região que muito fez em prol das lutas de resistências e deu um grande contributo para o nacionalismo angolano.

2. Contexto

            O paradigma de uma Nova História defendido por BURKE, a Escola dos Annales, além de lutar por uma história total (expressão cunhada por Fernando Braudel) opõe totalmente ao paradigma tradicional da historiografia. Enquanto paradigma tradicional diz respeito somente à história política, a Nova História preocupa-se com uma História total, onde tudo é histórico.

Daí a identidade como forma de resistência interessar a perspectiva da nossa abordagem histórica. “História é a política passada: política é a história do presente”. Deste aspecto, podemos dizer que a história tradicional marginalizou muitos aspectos das actividades humanas. Para Nova História, tudo tem uma história, toda actividade humana é portadora de uma história, pelo que cremos justo dizer que a identidade cultural é história e tem uma história[3].

Segundo Kalina Vanderlei Silva defende que,

“ É Com o surgimento dos debates em torno da pós-modernidade e do multiculturalismo, no final do século XX, o tema das identidades veio à tona na História. Na verdade, a noção de identidade não é nova nas ciências humanas, já sendo bem conhecida da Psicologia e da Antropologia, mas é uma preocupação recente para os historiadores, desenvolvida principalmente por aqueles que trabalham com a interdisciplinaridade. O conceito de identidade é muito importante para a compreensão do mundo globalizado, em que o enfraquecimento dos Estados nacionais tem gerado a fragmentação das identidades nacionais e o ressurgimento de outras identidades de género, étnicas, justamente dessa fragmentação. Nesse sentido, é possível estudarmos as identidades com base em muitas premissas, como, a partir do hibridismo, ou seja, da sobreposição de identidades diferentes, o que é cada vez mais comum nos países que recebem grandes levas de imigração”[4].

3. Relevância Científica

  Do ponto de vista teórico o trabalho apresenta uma análise sobre a identidade Cultural na resistência dos Jindembu na Região dos Dembos/ Nambuangongo Província do Bengo, facto que vai de 1872, altura em que se deu a sublevação geral do Jindembu, culminando com a independência da região, 47 anos depois. E o ano de 1919, corresponde consequentemente ao declínio da resistência do Jindembu.

A escolha do presente tema, cinge-se em duas linhas de forças que concorreram na decisão em elaborar esta pesquisa. Primeiro, o interesse em estudar a identidade cultural da região, como dizia Cheikh Anta Diop, “há necessidade que um povo conheça a sua História e salvaguarde a sua cultura nacional. Se estas não foram estudadas, é um dever fazê-lo[5]”. Segundo, é o facto de que a produção científica do Jindembu é de maior relevância no contexto militar, existe insuficiência de abordagem no âmbito de resistência cultural. Assim, pretendemos com este trabalho dar um contributo à História de Angola.

4.Metodologia: Segundo Prodanov diz que,

«A Metodologia é a aplicação de procedimentos e técnicas que devem ser observados para construção do conhecimento, com o propósito de comprovar sua validade e utilidade nos diversos âmbitos da sociedade. Ou é compreendida como uma disciplina que consiste em estudar, compreender e avaliar os vários métodos disponíveis para a realização de uma pesquisa académica»[6].

A metodologia visa a descrição precisa do problema, dos métodos, da técnica e dos instrumentos de pesquisa utilizados no trabalho. Para o nosso trabalho, optou-se por método bibliográfico que nos permitiu fazer análises das referências bibliográficas escritas que retratam sobre o assunto em análise, pois de acordo com os mesmos autores: Após a escolha do tema, o pesquisador deve iniciar amplo levantamento das fontes teóricas (relatórios de pesquisa, livros, artigos científicos, monografias, dissertações e teses), com o objectivo de elaborar a contextualização da pesquisa e seu embasamento teórico, o qual fará parte do referencial da pesquisa na forma de uma revisão bibliográfica (ou da literatura), buscando identificar o “estado da arte” ou o alcance dessas fontes[7]. Quanto o enfoque do ponto de vista da Metodologia de Investigação, Enfoque Qualitativo. Quanto o Método e técnicas de colecta de dados: utilizou-se o método bibliográfico, para a obtenção de informações em variadas obras de autores que debruçaram sobre o assunto; Método analítico mostra importante porque permite uma introspecção minuciosa aos conteúdos explorados, conferir validade científica; o método de Pesquisa de Campo, que foi operacionalizado através da técnica de recolha de dados, por intermédio da aplicação de questionários e entrevistas aqueles que detêm informações sobre o assunto; o método comparativo, que permitiu aferir as diferenças e semelhanças entre as diversas formas de resistências travadas em outras regiões dos Jindembu, o método descritivo para efectuar a descrição geográfica da região em estudo e o método histórico, que nos permitiu fazer a investigação de acontecimentos ou instituições do passado, para compreender o presente.

O presente trabalho encontra-se sistematizado da seguinte estrutura: (i) Resumo, onde consta os objectivos geral e específicos as hipóteses ou a finalidade da investigação; O (ii) procurou apresentar o contexto e a relevância cientifica que o tema apresenta e a sua Metodologia, (iii) Responde ao foco dos resultados do trabalho sobre A Identidade Cultural na Resistência do Jindembu: O Caso de Nambuangongo, onde foram analisadas questões relacionadas sobre a presença portuguesa na região, as relações das autoridades portuguesas com os povos locais e a identidade cultural como forma de resistência na religião, língua e na Musica de forma a preservar a sua cultura e a sua identidade. E por fim as Considerações Finais e as Fontes Bibliográficas.

  • Definições de termos e conceitos:

6. Identidade Cultural

 A identidade, enquanto factor de análise do domínio da Antropologia Social e Cultural e da Sociologia, é um conceito com correlação estreita com o de etnicidade[8]. A questão da resistência cultural na região do Jindembu é de pouca abordagem, apenas existe uma monografia que fala sobre a Identidade Cultural como forma de Resistência do Jindembu: Caso de Caculo Cahenda.

Para melhor compreensão da identidade cultural, julga-se primeiro reflectir a cerca dos conceitos da identidade e da cultura. De acordo com Adalberto Silva Santos, o conceito de identidade é entendida como um conjunto de repertórios de acção, de língua e de cultura que permite a uma pessoa reconhecer sua vinculação a certo grupo social e identificar-se com ele. Isso não depende somente do nascimento ou das escolhas realizadas pelos sujeitos, pois no campo político das relações de poder, os grupos podem fornecer uma identidade aos indivíduos. Vale, entretanto referir, que a identidade, inicialmente, como aquilo que se é, como um facto autónomo e auto-suficiente. Nesse sentido ela só teria como referência a si própria. Segundo essa óptica, o diferente também é visto como uma entidade independente, podendo ser definida como aquilo que o outro é. No entanto, é claramente perceptível que identidade e diferença mantêm relação de dependência[9].

Para perceber o carácter circunstancial do conceito em definição recorre autora Vera Lúcia do Amaral diz que,

O conceito de identidade agrupa uma série de noções, como a de permanência, de manutenção de referências que não mudam com o tempo, por exemplo, seu nome, suas relações de parentesco, sua nacionalidade. Apesar de saber que mudei com o passar do tempo, sei que sou o mesmo que era ontem, ou seja, tenho dentro de mim um auto-reconhecimento a partir de aspectos fundamentais de minha história de vida. Assim, quando penso em quem eu sou, esse meu “eu” tem uma constância ao longo do tempo. Tem também uma unidade, ou seja, sei que sou uma única pessoa e que mesmo mudando não me transformei em outra. A identidade, então, é essa consciência do reconhecimento individual que permite a distinção do “eu”.

Mas, essa distinção do “eu” permite também que possamos distinguir o “outro”. No momento em que delimito a minha identidade, estou também admitindo que existem as identidades das outras pessoas. É, pois, em relação a esse outro que nos constituímos e nos tornamos únicos. A identidade é definida pela relação do indivíduo, na relação com outros indivíduos, isto é, cada indivíduo se completa e se efectiva no relacionamento com os que estão à sua volta, em seu convívio. “Eu passo a ser alguém quando descubro o outro e a falta de tal reconhecimento não me permitiria saber quem eu sou, pois não teria elementos de comparação que permitissem ao meu eu destacar-se dos outros eus”[10].

A partir da mãe, a criança, no seu processo de desenvolvimento e diferenciação, busca outras pessoas com quem possa se identificar pessoas que lhes são significativas e que sirvam de modelo para a construção de sua identidade individual, auxiliando na definição de quem ela deseja ser no futuro. A presença de figuras que lhe possibilitem identificações positivas e fortes é, pois, fundamental até a adolescência, e continua a ser importante pelo resto das nossas vidas. De acordo com Reginilde Rodrigues Santa Bárbara Masseca, o conceito de identidade:

É complexo. Ele chega a ser rejeitado por alguns cientistas sociais, especialmente pelos pós-modernistas, os quais afirmam não ser mais possível no mundo contemporâneo a constituição ou verificação de uma identidade qualquer, dada a complexidade do sujeito social e as suas relações. Boaventura de Sousa Santos, sociólogo português, por exemplo propõe o uso do termo «identificação» ao invés de identidade.

 Importa referir, que seria improdutivo e intelectualmente cansativo reproduzirmos aqui toda a definição de identidade, aliás muitos estudiosos como Fredrik Barth, Marx Weber e o sociólogo Stuart Hall reconhecem e não desconsideram o carácter circunstancial, e relacional do conceito. Reginilde Rodrigues Santa Bárbara Masseca cita Stuart Hall que entende que somos portadores de múltiplas identidades, que definem e diferenciam o «eu», ou o «nós», dos «outros» e que se manifestam de acordo com a interpelação, o questionamento da circunstância[11]. A identidade define-se não apenas em termos relacionais, o “eu” com ou contra o “outro”, mas igualmente toma forma inspirada pelo próprio grupo, que busca se identificar consigo mesmo[12].

Sobre o conceito de identidade, Pedro de Castro Maria, faz a seguinte referência:

Entende-se por identidade a fonte de significado e experiência de um povo, ou no que diz respeito aos actores sociais, o processo de construção de significado com base num atributo cultural, ou ainda um conjunto de inter-relacionados os quais prevalecem sobre outras formas de significado. Quer para um indivíduo, quer para um actor colectivo, pode haver identidades múltiplas[13].

O exterior exerce um importante papel na formação de nossa identidade, que está presente no nosso imaginário e é transmitida, fundamentalmente, por meio da cultura. A identidade é o que nos diferencia dos outros, o que nos caracteriza como pessoa ou como grupo social. Ela é definida pelo conjunto de papéis que desempenhamos e é determinada pelas condições sociais decorrentes da produção da vida material[14].

A cultura é tudo o que é feito pelos homens, ou resultado do trabalho deles e de seus pensamentos. Por exemplo, uma cadeira está na cara que é cultural porque foi feita por alguém. Mesmo um banquinho mais vagabundo, que mal se põe em pé, é uma coisa cultural, é cultural, também, porque foi feito pelos homens, uma galinha, sem a intervenção humana, que criou os bichos domésticos, as galinhas, as vacas, os porcos, os cabritos, as cabras não existiriam. Só haveria animais selvagens[15].

Manuel Imbamba sustenta que,

A cultura é uma propriedade só do homem, pelo homem e para o homem, porque é ela que faz dele um ser especificamente humano, racional, estético, crítico e eticamente empenhado; é ela que faz dele um ser cultural, categoria que harmoniza e integra os dois extremos (naturalismo e historicismo) que ao longo da História se foram repelindo mutuamente,[16].

Em 1871, Edward B. Tylor, o pai da Antropologia Moderna, formula a sua definição, que se tornou clássica na Antropologia Cultural. É uma definição descritiva: A cultura é um conjunto de complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costume e várias outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. Poderíamos definir a cultura como sendo um conjunto ligado de maneiras de pensar, de sentir e de agir mais ou menos formalizadas que, sendo apresentadas e partilhadas por uma pluralidade de pessoas, servem, duma maneira simultaneamente objectiva e simbólica, para organizar essas pessoas numa colectividade particular e distinta.

Tal como Kalina Vanderlei Silva, diz que,

O significado mais simples desse termo afirma que cultura abrange todas as realizações materiais e os aspectos espirituais de um povo. Ou seja, em outras palavras, cultura é tudo aquilo produzido pela humanidade, seja no plano concreto ou no plano imaterial, desde artefactos e objectos até ideias e crenças. Cultura é todo complexo de conhecimentos e toda habilidade humana empregada socialmente. Além disso, é também todo comportamento aprendido, de modo independente da questão biológica[17].

Identidade sendo a fonte de significado e experiência de um povo e cultura, comportamento cultivado e experiencia adquirida pelo homem, a identidade cultural segundo, “constitui um fenómeno de auto-reconhecimento, tanto individual como colectivo, pois configura um sistema de referências onde um observa o outro, assim, a identidade só é reconhecida no colectivo”, percebe as identidades culturais como aspectos identitários que “surgem do nosso ‘pertencimento’ a culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas e, acima de tudo, nacionais”. Além de relacionar a identidade cultural ao compartilhamento de “patrimónios comuns” (língua, religião, artes, trabalho, exportes, festas etc.), acrescenta que ela é um “processo dinâmico, de construção continuada, que se alimenta de várias fontes no tempo e no espaço[18]”.

Hall define as identidades culturais desta forma:

As identidades culturais são pontos de identificação, os pontos instáveis de identificação ou sutura, feitos no interior dos discursos da cultura e história. Não uma essência, mas um posicionamento. Donde haver sempre uma política da identidade, uma política de posição, que não conta com nenhuma garantia absoluta numa lei de origem sem problemas, transcendental[19].

            A identidade cultural é o sentimento de identidade de um grupo, cultura ou indivíduo, na medida em que este é influenciado pela cultura do grupo a que pertença. “Identidade” é algo único, distinto e completo. “Cultural” se refere a “saber”. Logo, a junção das duas palavras produz o sentido de “saber se reconhecer”. De acordo o site brasileiro Mundo Educação “a identidade cultural é um conceito que se aplica nas áreas da Sociologia e da Antropologia, que indica a cultura em que o indivíduo está inserido, ou seja, a que ele compartilha com outros membros do grupo, seja tradições, crenças, a história, a raça, a etnia, o local e a língua. A identidade cultural é um conjunto vivo de relações sociais e patrimónios simbólicos historicamente compartilhados que estabelece a comunhão de determinados valores entre os membros de uma sociedade.

            Para Luciano dos Santos, olha a identidade cultural,

“Enfatizando aspectos relacionados a nossa pertença a culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas, regionais ou nacionais. A identidade cultural é em muitos sentidos a fonte de significação e experiência de um povo, mas como reconhece Castells, dentro da cultura de um mesmo povo pode coexistir mais de uma identidade que se harmonizam e conflituam entre si. Logo, se existe mais de uma identidade, devemos falar mais em significados e experiências de um povo no plural e menos em significado no singular. Apenas por intermédio de uma noção que perceba esta pluralidade de significados e experiências é que podemos compreender a complexidade do real sociocultural. Do mesmo modo, inegavelmente a identidade cultural é um sentimento de pertença, todavia, esta proposição por si só dá conta também de explicar os fenómenos das identidades na alta – modernidade. Ou seja, mais do que dizer o que é a identidade cultural, para compreender a complexidade desse fenómeno, é necessário interrogarmos o porquê e o como da identidade cultural: por que surge esse sentimento de pertença? Como as identidades culturais são criadas? A partir de que são criadas? Como se relacionam com outras categorias de compreensão social (ideologia, poder, dominação, simbólico, representações”[20].

O termo sobre resistência, não obstante ter merecido elucubrações de muitos autores, ainda carece de observações e contribuições. O que é resistência? A palavra resistência provém do latim resistere, surgida em meados do século XIII, com o significado de obstaculizar o uso da força ou de meios de coerção, sendo que a raiz latina sistere decorre de stare, que significa colocar-se de pé.

Luciano dos Santos realça que, 

“No dicionário, o verbo resistir é definido como expressando a capacidade que têm os seres animados e inanimados de opor-se frente a um outro sistema de forças, mas o acto de resistir é, também, descrito como a capacidade que têm esses seres de lutar em defesa de algo. Dessa forma, resistir é, ao mesmo tempo, o resultado da acção de opor-se a algo, mas, também, o conjunto de estratégias utilizadas para defender uma posição, um lugar ou um conjunto de práticas culturais. Para se revoltar é necessário estar-se submisso[21]“.

No entanto, pensamos que mesmo «pretensamente submisso», no caso específico de Angola como de outros povos africanos, a resistência não deixou de existir. E aqui, estamos de acordo com os pesquisadores do Centro de Documentação e Investigação Histórica (CNDIH), organismo adstrito à Secretaria de Estado da Cultura da República de Angola, ao definir a resistência “como as diferentes respostas que os diversos grupos deram às tentativas de penetração do expansionismo europeu”[22]. Segundo Araújo citado por Cupelli. O conceito de resistência pode ser entendido como uma acção negativa diante de novas propostas e projectos, quando o sujeito precisa deixar de lado suas práticas e experiências para dar ênfase a novos projectos pensados e implantados pelas políticas novas[23].

 Fernanda Diniz diz que,

«A resistência começa por remeter para guerra, precisamente um dos pilares fundamentais da desvalorização europeia do africano, assim transformado em selvagem absoluto. Ora, a noção de resistência utilizada na historiografia africana ou africanista assenta na ideia de “ataque” vindo de fora que pode arrastar consigo forças negativas interiores acabando por destruir o organismo social. A utilização desta noção carrega sempre uma carga de passividade, de reacção imediata dos africanos perante as dinâmicas do exterior, e não de estratégia pensada, integrando a capacidade africana de transformação. Entende-se como resistência o resultado da acção de opor-se a algo, resistência cultural será o que resulta em um conflito entre as diferentes identidades, gerando reacções defensivas por parte da cultura ameaçada. Sendo necessário, portanto, a construção cultural das identidades, baseadas no princípio da identidade de resistência».

A resistência cultural são os modos culturais de populações subjugadas política, culturalmente ou pela força, e os meios utilizados por essas comunidades na preservação das suas tradições e identidade. A resistência acontece no combate simbólico com a cultura dominante ou hegemónica.

Ainda Fernanda Diniz, diz que,

“A resistência cultural serve para preservar a essência da tradição das populações e comunidades. Todavia, resistência cultural se pode afirmar que é a negação de uma difusão cultural. Como afirma Marconi e Presotto: “As culturas, quando vigorosas, tendem a se estender a outras regiões, sob a forma de empréstimo mais ou menos consistente. A difusão de um elemento da cultura pode realizar-se por imitação ou por estímulo dependendo das condições sociais, favoráveis ou não, à difusão”. Quando tal processo não é recebido de forma coesa estamos diante de uma resistência cultural”[24].

8.Revolta

Que é a revolta senão a afirmação de um direito estendido a toda a humanidade sem excepções? Pretende anunciar seu conceito de revolta de acordo com a asserção “o revoltado, no sentido etimológico, é alguém que se rebela, (…) contrapôs o que é preferível ao que não o é”. Revolta são todos elementos discriminatórios e brutais, ligados à política de contenção e controle das camadas humildes, o aprisionamento arbitrário nas cidades ou comunidades, a humilhação pelo desnudamento à fustigarão cruenta revela um comportamento sistemático e não casual da autoridade pública. Ainda o mesmo autor realça que,

“Apresentado deste modo, a revolta é dada como um movimento do sujeito que se revolta e ao se revoltar assume a percepção de que há algo identificável no homem, algo intransponível e irrenunciável, um direito estendido a todo homem e que lhe assegura o direito a revoltar-se contra outro homem, mesmo este possuindo direitos iguais aos seus, mas, por vezes momentaneamente, lhe impede a realização plena deste direito comum. A revolta não é somente a recusa, mas a exigência do tratamento igualitário, sendo esta admitida pelo revoltado ao perceber sua identificação com o outro que o humilha”.

Revolta corresponde à manifestação armada ou não contra autoridade estabelecida. Para tal, só se pode falar de resistência quando estamos perante uma tentativa de penetração de povo estrangeiro, que deseja subordinar outro povo, em todos os sectores, na pretensão de ocupar esta região, e as populações locais, tendem a recusá-los. Ao passo que quando o poder já se encontra instituído, e as populações locais reivindicam os seus direitos, trata-se de revolta[25].

9. Jindembu

A região do Jindembu forma uma bolsa que se abre às portas de Luanda, entre Caxito e Quifangondo, e se estende depois a cerca de trezentos quilómetros na direcção nordeste. Limitada a sul pelo rio Bengo (Zenza), é constituída pelas bacias superiores dos rios Bengo, Lombige, Dande, Lifune, Luege e Loge, e estava ao tempo, compreendida entre os Concelhos de Icolo e Bengo, Zenza do Golungo, Golungo Alto e Ambaca ao Sul, Alto Dande e Ambriz a Oeste, Duque de Bragança a Leste e Encoje ao Norte,[26].

Zona montanhosa com ligeira aridez a sul encontrando-se apenas alguns campos de capim, pois a escassez de vegetação nesta parte da região, é largamente compensada pela luxuriante vegetação de grande número de florestas que cobrem o norte da região.

O Jindembu era um tipo de estrutura política de pequena dimensão presente em Angola, principalmente entre-os-rios Dande e Bengo. Eram povos que possuíam uma organização política e reconheciam como líder os denominados Jindembu. Vale lembrar que estes Jindembu possuíam um nome próprio já que esta denominação Ndembu se refere a um título que é passado para outro sucessor após sua morte ou invalidade para o “cargo”, para melhor ilustrar o primeiro Ndembu Caculo Cacahenda que se chamava Sebastião Francisco Xeque[27]De acordo com Pélissier, o termo Ndembu tem vários significados, para tal deixemos que ele fale por si:

 «A palavra Ndembu designa simultaneamente: 1º autoridades africanas com o nome das terras que lhes obedecem (em geral, são ambundos, mas alguns são bacongo) e de quem dependem sobas de menor importância. Reconheciam ou não a soberania nominal do São Salvador; 2º o território que juntamente todos eles governam, entre o rio Loge a norte; o Mossul e os distritos portugueses das Barras ao oeste; o curso médio do Bengo, ou Nzenza, que faz fronteira com o distrito central do Golungo Alto, a sul; os limites imprecisos do distrito do Duque da Bragança a Sudeste; e uma região ainda não penetrada administrativamente, a leste; 3º) títulos honoríficos que a si próprios se dão ou cobiçam chefes ambundos do Golungo Alto ou do Distrito de Cambambe, sem laços com S. Salvador e aliados, ou melhor, vassalos, dos portugueses; 4º) as populações dessa região, sem homogeneidade étnica; 5º) uma divisão administrativa do reino de Angola separada do Golungo Alto e compreendida entre o curso médio do Dande ou Dange, a norte, e o rio Bengo ou Nzenza a sul»[28].

            Depois de termos feito o desenho teórico do trabalho temos agora ideias para apresentar a discussão dos resultados da Pesquisa, só foram possível ser alcançando sobre a identidade cultural na resistência dos Jindembu o caso de Nambuangongo, onde foram analisadas questões relacionadas sobre a presença portuguesa na região, as relações das autoridades portuguesas com os povos locais e a identidade cultural como forma de resistência na religião, língua e na Musica de forma preservar a sua cultura e a sua identidade.

  1. Relações entre portugueses e os nativos

            O Ndembu Nambuangongo[29]é um espaço territorial integrante de Angola, localizado na actual província do Bengo. Bengo localiza-se à Norte do país a 55 km de Luanda, a capital do país. Situada no coração da região onde a sua influência convergiu de forma directa desde a fundação da cidade de Luanda no século XVI, Bengo é uma unidade administrativa, decreto-lei nº3/80 de 26 de Abril de 1980, logo depois de ser separada de Luanda para ganhar autonomia como província[30].

Segundo o Boletim Trimestral dos amigos de Lisboa nº 96,

«Inicialmente as relações entre os europeus com os Jindembu, eram satisfatórias que animava o Governo da Província, a encaminhar para a sua região, vários colonos saídos do Brasil, a fim de se dedicarem às culturas de algodão e café, porem, os abusos da autoridade na cobrança dos dízimos e da exploração desses povos pelos portugueses, desmoronou as relações»[31].

Segundo o nosso entrevistado (b), a relação entre os nativos e os portugueses nas terras de Mwene Quinguengo, não era boa por causa dos maus-tratos (sobretudo no trabalho forçado), como por exemplo os nativos ao cortarem o cacho de dendê na palmeira, alguns ficavam de baixo da palmeira, com as mãos preparadas para agarrar o cacho para que os dendê não estragassem, ainda sobre os maus-tratos ainda na mesma ideia o nosso entrevistado, diz que ao roçar as fazendas havia algumas larvas como sambambamba (corpo coberto de pelos) e insectos com destaque o njimpimbi, os pelos de sambambamba e a picada de njimpimbi, causavam dores fortes que não permitiam a continuidade do trabalho, no olhar dos portugueses pensavam que os nativos tivessem a mentir, para tal os trabalhadores pegavam nos pelos de sambambamba, na distracção do português os colocavam no casaco deste, ao vestir o casaco ou qualquer peça do seu vestuário afectada de pelos sentia a mesma dor, que muitas das vezes para recuperar tinha que ser no hospital. Esta situação permitiu os trabalhadores a resistir contra o trabalho forçado. A mesma situação fez com que o colono tivesse compaixão da mulher a não fazer o trabalho forçado no seu estado de gestação.

Os anciões entrevistados, são de opinião que, após a ocupação, o colono estabeleceu o seu posto administrativo, onde recrutava os nativos, que serviam de carregadores que transportavam as mercadorias de Ambriz até aqui e vice-versa, os mesmos trabalhavam também na abertura de estradas.

Enquanto o entrevistado (a)[32] conta que,

 «Sobre o que tinha acontecido com o seu avô: o meu avô tinha uma ntonga (fazenda) de palmeiras, os portugueses quando chegaram deram uma quantia em dinheiro, para que ele abandonasse a mesma, ao resistir, eles cortaram todas palmeiras que lá haviam e plantaram as suas, a revindicação o levou ao posto administrativo a fim de ser castigado. Ainda na lavra de mandioca, dos meus avôs o branco havia posto uma plantação que não sabiam de que cultura se tratava na verdade, mas mesmo não sabendo, eram obrigados a regarem a mesma, só deram conta que era plantação de cafeeiro depois de crescer, apropriando – se assim da lavra dos meus avós».

  1. A identidade cultural como forma de resistência

O alvorecer da angolanidade, o despertar da consciência nacional e do concomitante desejo de independência na mais poderosa das colónias portuguesas manifestou-se de três formas: através da actividade literária e cultural, pela prática religiosa e pela acção política[33]. Para Manuela Raminhos, afirma que,

“Os povos, com identidades colectivas distintas doutros povos, não são eternos. Nem serão eternas as identidades que hoje podem ser assumidas, sejam elas nacionais, étnicas, religiosas ou quaisquer outras: tiveram um princípio, terão um fim, darão lugar a outras identidades”[34].

“Se quiserdes destruir uma nação, se quiserdes matar um povo, mate, destrua primeiro a sua cultura, aí terás este ou aquele povo sob seu jugo eternamente” «Filósofo Indiano». Canavêz, identifica três tipos de resistências: contra as formas de dominação étnicas, sociais e religiosas; contra as formas de exploração marcadamente capitalistas que separam o indivíduo do que ele produz e contra o que liga o indivíduo a ele mesmo, chave que assegura sua submissão a outrem.

No último caso Canavêz, menciona “resistências contra o assujeitamento, contra as diversas formas de subjectividade e de submissão” Esses tipos de resistências se articulam ao longo da história, embora seja possível identificar a pregnância de uma delas conforme o contexto analisado[35].

Albert Adu Boahen acrescenta que,

“A resistência cultural nesta região foi evidente, porque o seu povo recusou de várias maneiras a cultura imposta pelos portugueses. Por acreditarem naquilo que os identifica culturalmente, o Ndembu julgava que os materiais usados pelos europeus eram incapazes de os vencer e enfrentava os mesmos sem temer toda a artilharia com a qual combatiam. “muitos dos dirigentes em véspera dos confrontos físicos reais, recorreram as orações, aos sacrifícios ou as poções e feitiços”[36]”.

Os Jindembu eram detentores de um potencial valor cultural, desde a dança, o canto, a circuncisão, bem como o uso de máscaras em certos rituais, como em entronização de um Ndembu ou Soba, na morte deste e em outras actividades festivas.

A penetração da cultura portuguesa foi boicotada pelos nativos principalmente naquilo que são os seus hábitos e costumes, pois podemos constatar forte resistência em função daquilo que é a sua vivência, desde a recusa do abandono dos seus rituais como a dança, a sucessão do Ndembu, a poligamia, os ritos de iniciação masculina, etc., Manuela Raminhos, descreve,

«A preservação do património histórico, artístico e cultural é necessária, pois esse património é o testemunho vivo da herança cultural de gerações passadas que exerce papel fundamental no momento presente e se projecta para o futuro, transmitindo às gerações por vir, as referências de um tempo e de um espaço singulares, que jamais serão revividos, mas revisitados, criando a consciência da intercomunicabilidade da história»[37].

Sabendo que a língua é o símbolo principal e fundamental de uma cultura, é o elemento que impulsiona o desenvolvimento cultural, unifica e faz a distinção de um grupo social, e é o único veículo que possibilita a transmissão de conhecimentos da própria cultura de geração a geração, a perca da mesma constitui um grande fracasso para qualquer cultura. Henriques Galvão afirma que “a maior parte da população sabia ler e escrever e todas autoridades indígenas, ainda no tempo em que João de Almeida reconheceu a região, falavam o português e ensinavam-no aos filhos e descendentes[38]”.

Segundo Dino Matrosse diz que,

“Os angolanos em geral e particular a população de Nambuangongo eram obrigados a aprender e praticar os hábitos e costumes da cultura do colono e também a cultivar somente os produtos que os portugueses delimitavam, a falar somente a língua portuguesa e esquecer a sua língua nativa, na medida em que, este era considerada “língua do preto”. Complementa dizendo o seguinte: Daqui infere-se o facto de ser assimilado, no passado colonial significa que o angolano “negro”, sobretudo o negro, estava a negar a sua própria identidade, o meio ambiente, os usos e costumes da terra e até mesmo a sua língua materna[39]”.

A população do Nambuangongo viveu na flor da pele todas estas situações impostas pelos colonos no seu habitar, este povo viu-se obrigado a assimilar toda cultura portuguesa e abandonar sua cultura porque o colono considerava cultura inferior.

12. A religião como forma de resistência

O conceito religião remonta ao vocábulo latino religio. Os vocabulários latinos atribuem ao termo religio, em geral, significados correntes entre os autores clássicos: “escrúpulo”, “consciência”, “exactidão”, “lealdade” e outros afins. No mundo latino pré-cristão, indicava um estilo de comportamento marcado pela rigidez e pela precisão, no máximo, evocava as formas de se executar um rito que, pelo carácter da religião romana era regido por normas muito escrupulosas.

Durkheim, tinha tanta certeza de que a religião era o centro da sociedade que não podia imaginar uma sociedade totalmente profana e secularizada. Para ele

                   «Religião é um sistema solidário de crenças e de práticas relativas a coisas sagradas, isto é, separadas, interditas; crenças e práticas que unem em uma mesma comunidade moral, chamada igreja, todos aqueles que a elas aderem. O segundo elemento que ocupa lugar em nossa definição e que não é menos essencial que o primeiro é o facto de que a ideia de religião é inseparável da ideia de igreja, isto quer dizer que a religião deve ser uma forma eminentemente colectiva».

Continua Durkheim, a religião “é um sistema unificado de crenças e de práticas relativo a coisas sagradas (…) que unem os seus aderentes numa comunidade moral túnica denominada igreja.”. A religião é essencialmente uma actividade, ou melhor, um complexo de actividades teórico-práticas, afectivas e especulativas, interiores e exteriores que têm como objecto especifico o sacro, o divino, o totalmente outro, é uma actividade que envolve todo o ser humano. A religião «é a resposta que o homem dá a Deus, resposta que exprime através dos símbolos, ritos, dos mitos, das leis e instituições»[40].

                A religião pode ser considerada, um sistema organizado de crenças, valores, situações, cerimoniais, práticas e realidades culturais ou cultos que se centralizam em um ou vários seres supremos, considerados divindades, com base em uma visão própria das relações do homem, consoante a sua sociedade. A religião exercia a maior influencia na maioria de pensar e viver dos nativos, e o elemento mais importante na sua vida tradicional.

A religião é como um sistema composto de “sentimentos, actos e experiências dos indivíduos na sua solidão, desde que considerem relacionar-se com algo considerado divino[41],”. Portanto, a introdução do cristianismo nas sociedades africanas em geral e na região do Jindembu em particular, gerou uma forte resistência diante das populações locais, tal como afirma Boahen que,

“Os missionários foram os porta-vozes da cultura ocidental praticamente até começos da década de 1890, e sempre foram claros relativamente a religião africana: queriam converter os africanos não somente ao cristianismo, mas também a cultura ocidental, que julgavam impregnada de cristianismo e profundamente marcada por ele. De facto, para a maior parte desses missionários convictos, não havia a menor diferença entre as duas coisas e, no entanto, embora não distinguindo entre a sua religião e a sua cultura, trabalhavam sem descanso para converter os africanos a uma forma de vida na qual a religião estava separada dos outros aspectos da existência. Ensinavam ao seu novo rebanho que a vida podia ser dividida em esfera espiritual e esfera secular – ensino que se opunha a própria base da cultura africana, ou seja, a unidade entre religião e vida”.

         Perante o processo de difusão, nem sempre, tudo é aceite, existem rejeições em relação a certos traços culturais. As mudanças e transformações globais nas estruturas políticas e económicas do Jindembu colocavam em causa às questões de identidade e as lutas pela afirmação e manutenção das identidades nacionais e étnicas, facto este que se verificou na região em estudo, pelo que, ao sentirem-se ameaçados, a negação dos hábitos e modos portugueses, bem como da religião cristã, constituíram como formas de resistência cultural, esta acção de implementação dos hábitos e modos portugueses foi levada acabo pelos missionários que tudo fizeram para destruir a ordem tradicional africana, pois de acordo com a mesma obra,

“Desse modo, os missionários tratavam de atacar o próprio elemento que sustentava a coesão das sociedades africanas. O perigo foi desde logo percebido por vários chefes africanos perspicazes, que prontamente se opuseram a penetração dos missionários, identificando na presença deles um desafio e uma ameaça as formas tradicionais de autoridade. Os missionários, assim como os administradores coloniais, pregavam contra a crença nos espíritos, nas forças sobrenaturais e nos deuses, na feitiçaria, nos sacrifícios, nos rituais, nos tabus e na veneração dos antepassados”.

Com isso, minavam a influência dos tradicionais chefes rituais africanos, como sacerdotes, sacerdotisas, mágicos, fazedores de chuva e monarcas divinos. Os administradores coloniais introduziram também a medicina ocidental, e atacavam os costumes “pagãos” para enfraquecer a posição dos médicos e dos curandeiros tradicionais. A ordem antiga foi, portanto, severamente fustigada e, em numerosos sectores da sociedade africana, envidaram-se esforços para defendê-la e protegê-la.

Ainda o mesmo autor afirma que,

“Os africanos reagiram de muitas maneiras a esses ataques. Aqueles que não se haviam convertido faziam oposição ao domínio colonial e desafiavam as condenações dos missionários, simplesmente continuando a obedecer a sua fé e a praticar seus ritos, aberta ou clandestinamente. Aqueles que se haviam convertido ao cristianismo, e cujas crenças e actitudes estavam, portanto, fortemente influenciadas pela nova doutrina, exprimiam sua resistência integrando sincreticamente algumas das crenças tradicionais a sua nova fé. Os africanos empregavam a religião como arma para resistir ao domínio colonial e a ameaça que ele representava para seus valores. Muitas vezes, recorriam a magia, a intervenção dos antepassados e de seus deuses para combater a opressão colonial”[42].

Nas diferentes tribos de Angola se pode observar aos ancestrais, «o povo angolano, antes da chegada dos portugueses já praticavam a sua religião tradicional africana, oriunda da mais antiga civilização Luba da Cantanga ou da África central e do noroeste»[43].

Tal como afirma, o nosso entrevistado (a), antes da chegada dos portugueses na região, os nativos já rezavam, e uma das suas práticas (religiosas) era denominada de kiwombonga, já sabiam a existência de um único Deus todo-poderoso que era designado de Nzambi Mpungo, onde os ancestrais funcionavam como elo de ligação entre Deus e o povo, (INFORMAÇÃO VERBAL).

Na mesma senda a nossa fonte de entrevistado, é de opinião que antes da chegada dos portugueses na região não havia igreja como tal, mas isso não quer dizer que o povo não rezava, eles tinham na mente a existência de um Deus que era denominado Nzambi.Com a chegada dos portugueses, salienta o nosso entrevistado(a) que,

 «A religião tradicional começou a ser proibida, os nativos procuraram uma outra maneira de continuar com as suas crenças, para isso era necessário afastarem-se das aldeias para lugares clandestinos onde não poderiam serem incomodados. Este facto fez com que os missionários cristãos chegassem apenas em 1937, a pedido do Ndembu Mbua Mpemba. O cristianismo foi uma das principais causas que fez perder o poder tradicional como o feitiço e outras práticas, porque muitos eram obrigados a deixarem as suas práticas tradicionais (no acto de confecção), uma vez que, era contra a religião cristã, (INFORMAÇÃO VERBAL)».

A rejeição da religião ou a sua perda provoca sempre a crise moral, a queda dos costumes e dos valores e, enfim, a ruína completa da cultura e da sociedade.

13.A língua como forma de resistência

A língua existe desde os primórdios, nascemos com ela já imposta, já feita e muito bem definida por seus usuários, ela é comum a todos os seres humanos e é através da língua que podemos nos comunicar com diversos povos. Saussure define a língua como um “sistema de signos” um conjunto de unidades, ocorrendo uma relação entre significante e o significado. Considerando a língua como um meio de comunicação de todos os falantes do mundo, é necessário estabelecer certas considerações sobre ela, pois esta, vai muito além de ser apenas um objecto de uso dos falantes, ele é, também, um objecto de poder[44],

Para Imbamba concorda com Saussure, ao definir língua como um determinado sistema de sinais ex-cogitado por um grupo social para realizar a comunicação entre os membros do mesmo grupo. A língua é a base genérica comum em todas as culturas, contudo, constitui o elemento fundamental primário de qualquer cultura: onde não há língua não pode existir nenhuma sociedade, não se pode desenvolver nenhuma cultura. Prossegue Manuel Imbamba ao afirmar que,

“O agrupamento social nasce, antes de mais e sobretudo, à base duma língua, assim, a língua é a condição sina quo non para a constituição de qualquer grupo social, para sair do anonimato e do isolamento, deve saber abrir-se ao mundo da comunicação, ao mundo da palavra que «é o único veiculo de que dispõe o homem para transmitir aos outros os próprios sentimentos», ou em outros termos para transmitir a própria cultura que passa de individuo a individuo e de geração a geração”[45].

Portanto, a língua é, assim, um grande ponto de encontro; de cada um de nós, com os nossos antepassados, com aqueles que, de qualquer forma, fizeram e fazem a nossa história, nossa língua esta embutida na trajectória de nossa memória colectiva. Cada potência colonial, actuando segundo o seu temperamento e as suas opções, movida pelos seus interesses momentâneos e pelas suas aptidões, a implicarem um número mais ou menos importante dos seus quadros médios no âmbito da gestão do seu império, praticou ora uma politica de assimilação pura e simples, em matéria linguística, educacional e cultural, ora uma politica de assimilação selectiva.

 As políticas de dominação colonial baseavam-se primeiro na aniquilação de línguas nativas[46]. Refere que, a actual região que se chama Angola possui além do português como língua oficial, 42 dialectos, sendo os principais: umbundo, kimbundu (dialecto do Ndembu Nambuangongo[47]), kikongo, ovimbundo, cacongo etc. Estes dialectos permitem identificar a região a que cada povo pertence.

A fase da ocupação, caracterizada pela opressão e aculturação, a língua era usada como forma de resistência cultural. Teoricamente, ele se atém ao facto de que, sob uma perspectiva histórica, a língua estabelece o elo entre, especificamente, o passado e o presente, independentemente do reconhecimento das comunidades culturais. Neste contexto, em que o idioma é considerado um elemento de auto-afirmação, tal como demonstra que o sistema de código de linguagem pode ser considerado como um símbolo.

Este sistema abrange tanto palavras faladas quanto escritas. A nosso fonte (b)[48], afirma que durante a convivência com o colono os nativos aproveitavam combinar algumas formas para revoltar contra os maus tratos uma vez que estes desconheciam a língua nativa, os mesmos acordos poderiam ser feitos na presença deles.

O nosso entrevistado (a)[49], sustenta que,

“Na plantação de cafeeiros, milheiros, entre outros, os nativos conversavam que quando o português estiver distraído ou na hora em que vai almoçar nós vamos desenterrar as sementes a fim de não germinarem, nos cafeeiros colocava-se cinza quente para que as plantações secassem com intenção de aborrecerem o colono, tal como já nos referimos no subtema sobre a relação entre os portugueses com os nativos, no uso de sambambamba e de njimpimbi. A língua terá desempenhado um papel fundamental na resistência cultural do Ndembu Nambuangongo, porque a população recusava em falar português em detrimento da língua nativa. No âmbito económico por exemplo quando lhes eram incumbidos uma determinada tarefa, não a faziam com desculpas de que não haviam percebido o que lhes foi dito”.

  1. A música como forma de resistência cultural

A música tem uma grande influencia no comportamento humano, determinados modos de falar, de agir e de pensar, entende – se como uma das manifestações artísticas e culturais de determinado povo. “Música é um arranjamento ordenado de sons e silêncios cujo sentido é representativo ao invés de denotativo. (…) música é a realização da possibilidade de qualquer som a apresentar a algum ser humano um sentido que ele experimenta em seu corpo”.

De acordo com Borges,  

«A música é uma maneira peculiar de sentir e pensar, que propõe novas maneiras de fazê-lo. “É por isso que se pode perceber a música não apenas naquilo que o hábito convencionou chamar de música, mas, sobretudo onde existe (…) a invenção de linguagens: formas de ver, representar, transfigurar e de transformar o mundo»[50]”.

A música, sendo uma das evidenciadas manifestações da cultura popular, exerce uma relevante função no processo de construção de identidades na sociedade moderna. A produção musical reafirma sentimentos de pertença e distinção, colocando em jogo a elaboração de uma identidade.

A música sempre foi utilizada pelo homem como meio de comunicação e resgate da história das sociedades. Uma das características de África é a sua cultura e sua música. Continua Souza, que a música marca as pessoas e molda seus comportamentos, crenças e pensamentos.

 Ela pode, ainda, contar a história de um povo e se encarrega de repassá-la às próximas gerações. Para a maioria das pessoas a música é uma forma de expressar sentimentos, desejos, frustrações, conceito que não está muito longe da realidade, pois durante muito tempo foi utilizada como forma de abrir os olhos da humanidade para as questões que afligiam o mundo, como a guerra, a descriminação, a opressão etc. Por meio da música, os nativos encontraram uma estratégia de comunicação para veicular mensagens de forma escamoteada, permitindo ao grupo certo controlo sobre o que acontecia com os companheiros de outras regiões do Jindembu.

 Assim, era possível informar acções cruéis levadas acabo pelos portugueses. O cantar foi um recurso para a protecção grupo tal, que garantia certa segurança para a identidade pessoal e social[51].

  1. Considerações Finais

Ao longo deste trabalho, procurou-se analisar em torno da identidade cultural na resistência do Ndembu Nambuangongo, travada no período da penetração colonial portuguesa. Para dar reposta ao problema fundamental deste trabalho e provar a veracidade das hipóteses levantadas, foi necessário fazer uma análise dos principais acontecimentos antes e depois da presença portuguesa na região, onde constatamos que os factores que levaram as resistências em todo continente africano, foram os mesmos no Ndembu Nambuangongo.

A região de Nambuangongo, muito antes da presença portuguesa era designada de Quinguengo. Os Jindembu tinham uma organização sociopolítica, no qual se encontrava no topo o Ndembu, como autoridade máxima e em seguida havia o seu elenco, composto por macotas que exerciam funções diversas, como as de chefe militar, às de juristas, entre outros. Nambuangongo possui, terras muito férteis e propicias para a agricultura, facto este que coloca a população desta região tendo a principal actividade económica, a agricultura e caça.

Todavia, a sobrevivência da cultura de Nambuangongo passava necessariamente pela conservação da sua identidade relacionada com língua, religião e outras práticas culturais, por isso, resistiu fortemente. É desta forma que se preservou a cultura e a identidade desta região.

Não obstante, as resistências vencidas, cimentaram ideias que viriam contribuir para o desenvolvimento do nacionalismo, uma vez que as questões religiosas, linguísticas e musicais foram armas que os nacionalistas usaram para contestar a dominação colonial, não foi por acaso que Nambuangongo serviu como a primeira Região Político-Militar.

Portanto, apesar da ocupação do seu território, e à semelhança do que terá ocorrido em toda região do Jindembu, a vontade de ser livre esteve sempre presente nos seus ideais, tendo culminado na luta contra o colonialismo português que conduziu à independência de Angola em 1975.

  1. Referências Bibliográficas  

AMARAL, Vera Lúcia do, (2007). A formação da identidade: alteridade e estigma, Psicologia da educação – Natal, RN: EDUFRN.

BOAHEN, Albert Adu (2010). História Geral da África, VII: África sob dominação colonial, 1880-1935. Brasília: UNESCO.

BORGES, Cândida (2003). Música, tempo e outros conceitos, Rio de Janeiro: Agosto.

BURKE, Peter (1992). A Escrita da História: Novas Perspectivas. São Paulo: Editora UNESP

CAMUS, Albert. (2011). O homem revoltado. Edição Rio de Janeiro: Record,

CANAVÊZ, Fernanda (2015). A Resistência como Afirmação de si. Rio de Janeiro, Brasil.

CARDOSO, Sheila Marisa Pinho Pereira de Almeida (2010). Contribuição para o estudo Clínico-Epidemiológico e da Respostaimune humoral na Comunidade angolana: Lisboa Institutode Higienee Medicina Tropical.

CNDIH. (1984). A Resistência em Angola. Resistência militar à ocupação colonial (em finais do século XIX A 2ª Década do século XX). Secretaria de Estado da Cultural, Novembro, execução gráfica-edições MINDF.

            COELHO, Tamires Ferreira, (2014). Articulação dos conceitos de cultura, identidade e cidadania ao estudo da comunidade do porto alegre. Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil),

COUTINHO, José Pereira (2012). Religião e outros conceitos. Faculdade de Letras da Universidade: do Porto. Lisboa: Edição Divisão de Publicações e Bibliotecas, Agência Geral das Colónias, 1942.

CUPELLI, Rodrigo Launikas; (2005), Os Sentidos das Resistências: Possibilidades Constitutivas na Formação de Professores Ribeirão Preto.

DINIZ, Fernanda (2007). Globalização e resistência cultural, monografia apresentada na universidade Belo Horizonte UNI-BH.

DURKHEIM, Emile (1989). As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Paulus.

FORTES, Carolina Coelho (2013). O Conceito de Identidade: Considerações sobre sua Definição e Aplicação ao estudo da História Medieval, Universidade Federal Fluminense.

GALVÃO, Henrique (1935). Jindembu. Agência Geral das Colónias, Tomo I. Lisboa,

HALL, Stuart (2010). A Identidade Cultural na Pós-Modernidade 4ª Edição. Rio de Janeiro: DP&A.

IMBAMBA, José Manuel (2010). Uma Nova Cultura para Mulheres e Homens Novos 2ª Edição. Um Projecto Filosófico para Angola do 3º Milénio à Luz da Filosofia de Battista Mondin. Luanda: Paulinas.

            KEITA, Boubakar Namory, (2008). Cheikh Anta Diop Contribuição Endógena para a Escrita da História do Continente (Ensaio de Reflexão sobre uma Obra). Luanda: Editorial Nzila.

MARIA, Pedro de Castro (2015). Minorias Étnicas em Angola: O Caso dos San. Luanda: Edições JZM.

MARTÍNEZ, Francisco Lerma (2014). Antropologia Cultural (Guia para o Estudo) 7ª Edição. Luanda: Paulinas.

MASSECA, Reginilde Rodrigues Santa Bárbara (2010). História, literatura e identidade nacional: interfaces e desafios numa sociedade pluricultural. In Maka, Revista de Literatura e Artes: União dos Escritores Angolanos. 1º Volume.

MATROSSE, Dino (2008). Memórias e Reflexões. Luanda: Nzila Editorial.

NETO, Teresa da Silva (2014). História da Educação e Cultura de Angola: Grupos Nativos, Colonização e a Independência, 3ª edição, Portugal: Outubro.

OLISIPO, Boletim Trimestral do Grupo Amigos de Lisboa (1961). 25 Anos de Cultura Olisiponense, Ano XXIV n.º 96 Outubro.

PAIXÃO, Priscilla Campiolo Manesco (2012). Metodologia do Ensino de História: Centro Universitário de Maringá.

PATRIOTA, Lúcia Maria (2002). C8ultura, identidade cultural e globalização, universidade estadual da Paraíba.

PÉLISSIER, René (1986). História das Campanhas de Angola: Resistência e Revoltas (1845-1926). V. I. Lisboa: Editorial Estampa.

PRODANOV, Cleber Cristiano & FREITAS, Ernani Cesar. (2013) Metodologia do trabalho científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Académico, Novo Hamburgo – Rio Grande do Sul – Brasil.

RAMINHOS, Manuela, (2004). Fronteiras da Identidade: o Outro na construção de um lugar na Serra de Grândola1º edição, Lda, Portugal

SANTOS, Luciano dos (2011). As Identidades Culturais: Proposições Conceituais e Teóricos, Universidade Federal de Goias são Paulo. 

SAUSSURE, Ferdinand (1970). Curso de linguística geral, São Paulo: Cultrix.

SILVA, Kalina Vanderlei (2009). Dicionário de Conceitos Históricas. 2ᵒ Edição. São Paulo: Contexto.

SOUZA, Rosangela (2013). A Música como Instrumentos de Resistência Contra a Repressão da Ditadura no Período Entre de 1968 a 1979. Paraná, volume I.

TEIXEIRA, Luiz Dário Ribeiro (2007). A África Pré-Colonial. Breve História da África. Porto Alegre: Leitura XXI.

VIEIRA, Daiana Lucas (2011). AS CARTAS DO NDEMBU CACULO CACAHENDA: UMACOMUNICAÇÃO FREQUENTE ENTRE AUTORIDADES AFRICANAS E PORTUGUESAS (1780-1860). Juiz de Fora.

Pesquisa de campo

Adão José, nascido aos 17 Agosto de1937, entrevistado no dia11 de Janeiro de 2019.

Adão José Ferreira nascido aos 25 de Dezembro de 1944, natural de Kicanga, entrevistado no dia 10 de Janeiro de 2019.

Correia José Diogo, nascido aos04 de Dezembro de 1953, em Kimuana-Sala, comuna do Gombe entrevistado no, dia 10 de Janeiro de 2019.

Carlos Sebastião Mengui, nascido aos 12 Dezembro de 1963, entrevistado no dia 09 de Janeiro de 2019.

      Domingos António Capemba, aos 22 de Maio 1933, entrevistado no dia de Janeiro de 2019.

Miguel Paulino João nascido em 1935, na localidade do Gombe, entrevistado no dia 09 de Janeiro de 2019;

            Sebastião Garcia Quinguengo, nascido aos 06 de Junho de1934 em Quicanga-sala, entrevistado no dia10 de Janeiro de 2019.


[1] PÉLISSIER, René. História das Campanhas de Angola: Resistência e Revoltas (1845-1926). V. I. Lisboa: Editorial Estampa, 1986, p. 18.

[2] GALVÃO, Henrique. Jindembu. Agência Geral das Colónias, Tomo I. Lisboa, 1935, p.5

[3] BURKE, Peter. A Escrita da História: Novas Perspectivas. São Paulo: Editora UNESP.1992, p.17

[4] SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de Conceitos Históricas. 2ᵒ Edição. São Paulo: Contexto. pp. 202-205

[5] KEITA, Boubakar Namory. Cheikh Anta Diop Contribuição Endógena para a Escrita da História do Continente (Ensaio de Reflexão sobre uma Obra). Luanda: Editorial Nzila. 2008, p. 60.

[6] PRODANOV, Cleber Cristiano & FREITAS, Ernani Cesar.Metodologia do trabalho científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Académico, Novo Hamburgo – Rio Grande do Sul – Brasil. 2013, p. 131.

[7] PRODANOV, Cleber Cristiano & FREITAS, Ernani Cesar.Metodologia do trabalho científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Académico, Novo Hamburgo – Rio Grande do Sul – Brasil. 2013, p. 131.

[8]Etnicidade é um termo que deriva de etnia, é uma forma de organização social numa base étnica, é vista como uma solidariedade de grupo emergente em situações de conflito, entre indivíduos que possuem interesses materiais comuns, e os critérios que conformam a existência de etnicidade são os seguintes: pertença de grupo, identidade étnica, consciência da pertença ou das diferenças de grupo, ligações efectivas ou vínculos baseados num passado comum e putativo e nos objectivos ou interesses étnicos reconhecidos, como tradição, crenças culturais, territoriais ou biológicas.

[9] FORTES, Carolina Coelho. O Conceito de Identidade: Considerações sobre sua Definição e Aplicação ao estudo da História Medieval, Universidade Federal Fluminense. 2013, p.35.

[10] AMARAL, Vera Lúcia do. A formação da identidade: alteridade e estigma, Psicologia da educação – Natal, RN: EDUFRN. 2007, p. 4.

[11] MASSECA, Reginilde Rodrigues Santa Bárbara. História, literatura e identidade nacional: interfaces e desafios numa sociedade pluricultural. In Maka, Revista de Literatura e Artes: União dos Escritores Angolanos. 1º Volume. 2010, pp. 197-212.

[12] FORTES, Carolina Coelho. O Conceito de Identidade: Considerações sobre sua Definição e Aplicação ao estudo da História Medieval, Universidade Federal Fluminense. 2013, p.33

[13] MARIA, Pedro de Castro. Minorias Étnicas em Angola: O Caso dos San. Luanda: Edições JZM. 2015, pp. 23-24.

[14] PATRIOTA, Lúcia Maria. Cultura, identidade cultural e globalização, universidade estadual da Paraíba. 2002, p. 3.

[15] PAIXÃO, Priscilla Campiolo Manesco. Metodologia do Ensino de História: Centro Universitário de Maringá. 2012, P, 25.

[16] IMBAMBA, José Manuel. Uma Nova Cultura para Mulheres e Homens Novos 2ª Edição. Um Projecto Filosófico para Angola do 3º Milénio à Luz da Filosofia de Battista Mondin. Luanda: Paulinas. 2010, p. 27.

[17] SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de Conceitos Históricas. 2ᵒ Edição. São Paulo: Contexto. 2009, p. 85.

[18] COELHO, Tamires Ferreira. Articulação dos conceitos de cultura, identidade e cidadania ao estudo da comunidade do porto alegre. Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil). 2014, p.4.

[19] HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade 4ª Edição. Rio de Janeiro: DP&A. 2010, p. 67.

 [20] SANTOS, Luciano dos. As Identidades Culturais: Proposições Conceituais e Teóricos, Universidade Federal de Goias são Paulo. 2011, p. 140-145.

[21] SANTOS, Luciano dos. As Identidades Culturais: Proposições Conceituais e Teóricos, Universidade Federal de Goias são Paulo. 2011, p. 5.

[22] CNDIH. (1984). A Resistência em Angola. Resistência militar à ocupação colonial (em finais do século XIX A 2ª Década do século XX). Secretaria de Estado da Cultural, Novembro, execução gráfica-edições MINDF.1984, pp. 49-50.

[23] CUPELLI, Rodrigo Launikas. Os Sentidos das Resistências: Possibilidades Constitutivas na Formação de Professores Ribeirão Preto. 2005, p.3.

[24] DINIZ, Fernanda . Globalização e resistência cultural, monografia apresentada na universidade Belo Horizonte UNI-BH. 2007, pp. 55- 57.

[25] CAMUS, Albert. O homem revoltado. Edição Rio de Janeiro: Record. 2011 p. 3

[26] GALVÃO, Henrique. Jindembu. Agência Geral das Colónias, Tomo I. Lisboa. 1935, p. 6

[27] VIEIRA, Daiana Lucas. As Cartas do Ndembu Caculo Cacahenda: Uma Comunicação Frequente entre Autoridades Africanas e Portuguesas (1780-1860). Juiz de Fora. 2011, p. 5

[28] PÉLISSIER, René. História das Campanhas de Angola: Resistência e Revoltas (1845-1926). V. I. Lisboa: Editorial Estampa. 1986, p. 44.

[29] A região de Nambuangongo, antes da presença portuguesa era designado pelos nativos de Quinguengo, só depois da chegada dos portugueses, é que ganha o nome de Nambuangongo Localizado no Norte de Angola, é composto por seis municípios: Ambriz, Dande, Ndembu Quibaxe, Bula Atumba, Pango Aluquém e Nambuangongo que é o nosso campo de acção. Nambuangongo, limita-se, a Norte com a província do Uíge (município de Ambuíla), a Sul com o município do Dande, a Leste com o município do Ndembu (Quibaxe) e a Oeste o município do Ambriz, (VER ANEXO Nº1) é composto por sete comunas: Muxaluando, Cana-Cassala, Cage-Mazumbo, Ngombe, Kicunzo, Kixico e Zala. A sede é Muxaluando.

[30] CARDOSO, Sheila Marisa Pinho Pereira de Almeida. Contribuição para o estudo Clínico-Epidemiológico e da Respostaimune humoral na Comunidade angolana: Lisboa Institutode Higienee Medicina Tropical. 2010, p. 65

[31] OLISIPO, Boletim Trimestral do Grupo Amigos de Lisboa). 25 Anos de Cultura Olisiponense, Ano XXIV n.º 96 Outubro. 1961 pp. 177 -178.

[32] Actual Ndembu da Aldeia Quicanga-sala.

[33] TEIXEIRA, Luiz Dário Ribeiro. A África Pré-Colonial. Breve História da África. Porto Alegre: Leitura XXI. 2007, p. 60.

[34] RAMINHOS, Manuela. Fronteiras da Identidade: o Outro na construção de um lugar na Serra de Grândola1º edição, Lda, Portugal. 2004, p. 30.

[35] CANAVÊZ, Fernanda. A Resistência como Afirmação de si. Rio de Janeiro, Brasil. 2015, p. 237.

[36] BOAHEN, Albert Adu (2010). História Geral da África, VII: África sob dominação colonial, 1880-1935. Brasília: UNESCO. 2010, p. 5.

[37] RAMINHOS, Manuela. Fronteiras da Identidade: o Outro na construção de um lugar na Serra de Grândola1º edição, Lda, Portugal. 2004, p. 54.

[38] GALVÃO, Henrique (1935). Jindembu. Agência Geral das Colónias, Tomo I. Lisboa, 1935, p. 14.

[39] MATROSSE, Dino (2008). Memórias e Reflexões. Luanda: Nzila Editorial. 2008, p. 29).

[40] DURKHEIM, Emile. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Paulus. 1989, p. 504.

[41]COUTINHO, José Pereira. Religião e outros conceitos. Faculdade de Letras da Universidade: do Porto. Lisboa: Edição Divisão de Publicações e Bibliotecas, Agência Geral das Colónias, 1942. 2012,pp. 178-179.

[42] BOAHEN, Albert Adu (2010). História Geral da África, VII: África sob dominação colonial, 1880-1935. Brasília: UNESCO. 2010, pp.597- 598

[43] NETO, Teresa da Silva. História da Educação e Cultura de Angola: Grupos Nativos, Colonização e a Independência, 3ª edição, Portugal: Outubro.

2014, P. 119

[44] SAUSSURE, Ferdinand. Curso de linguística geral, São Paulo: Cultrix. 1970, p.23.

[45] IMBAMBA, José Manuel. Uma Nova Cultura para Mulheres e Homens Novos 2ª Edição. Um Projecto Filosófico para Angola do 3º Milénio à Luz da Filosofia de Battista Mondin. Luanda: Paulinas. 2010, pp. 42-43).

[46] DINIZ, Fernanda. Globalização e resistência cultural, monografia apresentada na universidade Belo Horizonte UNI-BH. 2007, p.65.

[47]Segundo a nossa fonte de entrevista, presume-se ter surgido através de um velho caçador que tinha habilidade ou sorte de abater onças, habilidade traduzindo em Kimbundu significa ngo nho, e a palavra onça significa ngo, a mulher que preparava a carne se chamava nambua. Quando os portugueses chegaram na região, encontrando-se com o velho caçador, precisavam de conhecer o nome da região, como o mesmo não dominava a Língua Portuguesa, ao querer explicar o que lhe foi perguntado, ele respondeu Kuzediwa Kwame Ku Kuata ngo jingo, que quer dizer, a minha sorte é de caçar onças, juntado as palavras nambua e ngo-ngo, surgiu o nome Nambuangongo.

[48]Ancião da sede municipal de Muxaluando

[49]Ancião da sede municipal de Muxaluando

[50] BORGES, Cândida. Música, tempo e outros conceitos, Rio de Janeiro: Agosto. 2003, p.1.

[51] SOUZA, Rosangela. A Música como Instrumentos de Resistência Contra a Repressão da Ditadura no Período Entre de 1968 a 1979. Paraná, volume I. 2013, p, 9).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Translate »